Até 50 anos atrás, o cenário do tratamento do transtornos mentais era desanimador. Pouco havia de prático a se fazer pelos pacientes que não melhorassem com terapia psicológica. O destino de muitos casos graves era uma vida de perdas e fracassos provocados por surtos da doença. Muitos acabavam passando o resto de suas vidas em asilos e manicômios, sem qualquer esperança de melhora.
Na metade do século XX esse quadro começou a mudar: a descoberta do remédio clorpromazina e, em seguida, do lítio e da amitriptilina, permitiu que uma grande massa de doentes mentais deixasse os hospícios para voltar para suas casas. A descoberta dos remédios em psiquiatria tirou mais pessoas dos hospitais psiquiátricos do que qualquer outra medida adotada até hoje. O tratamento medicamentoso de diversos transtornos permitiu padrões mais altos de qualidade de vida, e melhoras antes consideradas impossíveis.
Tanto é assim que nos dias de hoje, conhecer os remédios existentes, bem como os seus usos, tornou-se tarefa essencial para um trabalho resolutivo na área da saúde mental, mesmo para aqueles profissionais que se dedicam preferentemente à prática psicoterápica.
A decisão de utilizar ou não um psicofármaco depende antes de tudo do diagnóstico que o paciente apresenta. Para muitas doenças os medicamentos são o tratamento preferencial. Como exemplos temos a esquizofrenia, o transtorno bipolar e as depressões graves. Há casos em que as terapias psicológicas são o tratamento de escolha, como nas fobias e transtornos de personalidade. Mas em muitas situações o ideal é combinar medicamentos e terapia psicológica.
Nas situações práticas o clínico tentará escolher, dentre as drogas comprovadamente eficazes para o caso, a mais apropriada, levando em conta, além do diagnóstico, o tipo de sintomas, os tratamentos anteriores, a idade, a presença de problemas físicos, outros remédios que o paciente use e muitos outros fatores.
Uma vez feita a escolha, o médico fará um plano de tratamento que envolve a fase aguda, a manutenção e as medidas para prevenção de recaídas. Cada uma dessas fases exige cuidados, o que pode influir nas doses e nos tipos de medicamentos utilizados. Com tudo isso em mente o médico irá propor o plano ao paciente e aos familiares, com o objetivo de obter sua adesão.
A maioria das pessoas tem dúvidas e receios em relação ao uso de medicamentos, especialmente se for por longo prazo. É importante dispor de algum tempo para dar informações sobre as causas e o tipo da doença, o motivo do uso dos medicamentos, as chances de melhora, os efeitos esperados com seu uso, o tempo necessário para se ver resultados, os efeitos colaterais e o que se pode fazer para resolvê-los. Conversar sobre estas e outras dúvidas, de forma realista, além de fortalecer a relação com o paciente, convoca-o a trabalhar ativamente por sua melhora.
Esta participação positiva do paciente, bem como de sua família, aumenta as chances de o tratamento ser seguido corretamente e sem paradas precoces. Colaboração e boa vontade na relação entre médico e paciente aumenta muitíssimo as chances de melhora, seja qual for a escolha de tratamento acordada.
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