Simplicíssimo

Círculos Concêntricos

    O mais recente ato teatral do Circo Nacional de Brasília fecha um círculo contemporâneo, cristalino como poucos na História da República. Tucanos e estrelas se farejam e se reconhecem, tão similares quanto o café e o leite da velha república.

 

 

    O chamado “escândalo do(s) dossiê(s)” trouxe à tona dos noticiários aquilo que os comentaristas já nos avisavam há meses: os esquemas fraudulentos que hoje são um dos sustentáculos máximos do governo Lula (que aliás tem dado beijinhos em Jader Barbalho, ao qual chama de companheiro), começaram no governo Collor (hoje aliado político de Lula) e prosperaram nos 8 anos de FHC.

 

    Não entrarei no mérito de culpar ou não os próceres da república, afinal, como Lula, FHC e Serra também poderão padecer de amnésias e se espantar com as traições de seus companheiros malvados. O notável é a necessidade de se fazer escândalo daquilo que é óbvio. A Rede Globo, por exemplo, ao divulgar o escândalo dos dossiês, nada mais fez que corroborar as análises de seus comentaristas, realizadas muitos meses antes.

 

    Claro! A Nobreza Máxima do Alto Tucanato nunca conseguiu avançar nas suas críticas à corrupção explícita e pulsátil do governo Lula, isto apenas porque os tucanos têm o rabo (ou as penas) presas. Quando a coisa apertou, calaram o bico. E que engraçado, o Marcos Valério trabalhou para os dois governos, puxa! Aquela passagem de governo, do FH para o Lula-lá, foi realmente muito amistosa, quase mimosa, pra não se dizer muito carinhosa.

 

    O conteúdo do dossiê fala por si: pouca informação concreta e muito material de acesso público, já que muitas das cenas filmadas em VHS (!) foram amplamente divulgadas pela imprensa. Políticos entregando ambulâncias, com ou sem Vedoin, com ou sem desvio de verbas, nós vamos ver para o resto da vida. Inventaram a ambulância num belo dia do século XX? Pois inventaram a cerimônia de entrega da ambulância no dia seguinte!

 

    Qual é a novidade? A corrupção no período do tucanato? Oh, quanta novidade. Acusam os tucanos de varrer a sujeira para baixo do tapete. Mas foi justamente isso que garantiu a viabilidade do governo Lula, ou seja, escondendo detalhes de esquemas que continuaram com o presidente-operário, os tucanos se protegeram mas não conseguiram avançar com o projeto de incriminar a Alta Cúpula Petista. Estão ajudando o PT a se manter no poder, ainda que  a contragosto.

 

    A inércia resultante por parte de tucanos e magalhães PFListas é uma das maiores causas do sucesso do governo de Louis Ignace Lule de Silvà. A outra, tenho dito, foi a entrada de José Ribamar Sarney. A ribamarização do governo Lula foi o passo decisivo para manutenção do estado de coisas de um presidente que via, há questão de pouco mais de um ano, a sua popularidade ameaçada pelas denúncias da sujeira nauseabunda que o cercava e ainda cerca. Ribamar ensinou a Lula o que faltava a este saber para controlar as massas, o congresso, o sertão.

 

    E foi assim que, mais uma vez, o sertão virou mar. Como outrora os ancestrais partidos conservador e liberal, hoje tucanos e estrelas dividem o mesmo saco.

 

 

Luiz Eduardo Ulrich

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