A comunicação pelas palavras é relativamente recente em nossa história. Talvez por isso elas não tenham tanto valor na interação entre duas ou mais pessoas. É, muitas vezes, aquilo que não é dito, a parte mais importante de uma conversa. As omissões, as ausências, as negativas, por exemplo, não necessitam de palavras para se fazerem ouvir. Quantas conversas já tive nas quais não importava o que era dito! Ricas em significado, mas sem nenhuma palavra digna de lembrança! Seja bom ou mal o resultado de uma interação assim, a riqueza da vida não-verbal permanece. Cada ser que dela participa, dela sai modificado. O olhar, o toque, os gestos, os ruídos, a respiração, a entonação, todos são mais poderosos que muitos discursos. Aliás, entre os discursos mais memoráveis da história, alguns primaram pela viva descrição do cenário humano, e nisso se diferenciam dos demais. Temos o famoso “Sangue, suor e lágrimas” do líder britânico, ou do poeta baiano temos as “(…)negras mulheres suspendendo às tetas magras crianças, cujas bocas pretas rega o sangue das mães (…)”. Enfim, são as baforadas reais do contato humano que nos incitam baforadas químicas realmente enriquecedoras no cérebro. As palavras podem ser dispensáveis, mas o contato humano não o é. Sem aquelas, estamos em dificuldades, sem este, simplesmente estamos mortos. Por isso vejo com preocupação o empobrecimento das relações humanas vivido por certos jovens. Há muitos motivos pelos quais é desvantajoso que o computador substitua o seio materno. A mais óbvia delas, na minha modesta opinião, é a privação de contatos reais com seres humanos, aceita mansamente por esses jovens e por seus pais. Seja ou não o mundo uma ilusão, e mesmo admitindo que seja uma ilusão, ela é mais suportável se olharmos para o lado e encontrarmos um colo, um abraço, um olhar, desses que costumamos chamar de “reais”. Mesmo que, ao fim das contas, constatássemos que tudo é ilusório, ainda assim a ilusão mais construtiva de todas seria o contato humano real.
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