O Mundo dos Espíritos
(Livre devaneio de um não-espírita simpatizante do conteúdo de “O Livro dos Espíritos")
Para me considerar espírita, precisaria crer no espiritismo. E desejo crer. Na verdade, admiro aqueles que não têm qualquer sombra de dúvida a respeito e mansamente crêem. Admiro mais ainda os que praticam a doutrina espírita, com boa compreensão dos seus aspectos práticos e morais. Tendem a ser pessoas mais serenas.
Consoladora me parece a expectativa da eternidade e a chance de nos melhorarmos a cada nova passagem pelo mundo material. Consolador pensar que, sempre que pedirmos, teremos a companhia de um anjo guardião e muitos outros espíritos benignos a nos suscitar bons pensamentos.
Mesmo quando nem pensamos no assunto, segundo a doutrina, muitos bons espíritos estão sempre a nos guiar com seus conselhos. Também nos ajudam a ter coragem para enfrentar as duras provas da vida. Se alimentamos em nós o desejo do bem, diz o texto do Livro dos Espíritos, a ajuda prestada por estes seres invisíveis é ainda maior e mais eficaz.
Estamos ainda muito longe da felicidade e elevação plenas. Porém, o espiritismo defende que podemos ter esperança, pois todos um dia estaremos, junto a um Deus que é soberanamente justo e bom.
Se eu acreditasse, tão pequenas, tão temporais, pareceriam as minhas atribulações… A angústia e o medo, que tantas vezes me batem à porta… Tudo o que temo, o que tanto me incomoda, pelo que choro e padeço… Tudo isso veria eu como mais uma seqüência de provas, das quais o espírito sai mais forte e instruído.
Igualmente transitórios são os prazeres materiais. Meus mais agradáveis prazeres nem de longe se comparam ao que vive e sente o puro espírito. O prazer que experimenta é indescritível, sublime e eterno.
Um dia a sociedade humana inteira, nos garante o Livro, muito mais valor dará aos seus aspectos éticos e morais do que aos materiais. Cairá por terra todo o egoísmo e a dureza do coração humano. Levará muitas gerações? Sim. Mas milhares de anos pouco são diante da eternidade de nossos espíritos. E nada nos impede de nos adiantarmos desde já. A escolha é nossa.
Dizem eles até que há mundos muito mais perfeitos do que somos capazes de imaginar. Lugares habitados por seres bem menos materialistas e de uma impressionante superioridade ética e moral. A melhor utopia que possamos conceber fica aquém destas sociedades. Se porventura um dia nos destruirmos, há um universo ilimitado de mundos e seres vivos inteligentes, nos quais poderíamos encarnar. Mas teremos que prestar contas pelo mal que fizemos. Isto se dá para que possamos aprender a não mais repetir os mesmos erros.
De fato, se eu tomar apenas o ponto de vista físico e biológico, considerando a vastidão do universo, da qual nossos astrofísicos já nos dão uma boa idéia, é irracional pensar que somos os únicos seres inteligentes que a bioquímica pôde produzir.
Tudo muito admirável… Mas faltam-me provas. E pior: dado que eu gosto muito da descrição contida no livro, facilmente poderia ser iludido. Existem as manifestações mediúnicas?… Sim? Ao mesmo tempo sei como é disponível a arte do ilusionismo, e que maravilhas pode fazer com a nossa imaginação.
Os textos psicografados muitas vezes estão além do alcance intelectual do médium, ou seja, alguma outra inteligência os produziu? Surgem em idiomas desconhecidos pelo médium? Tudo isso eu precisaria observar e estudar muito bem.
Estudar e refrear o impulso de acreditar por querer acreditar. Temos visto algumas manifestações comportamentais muito convincentes, que na verdade são casos de transtorno de personalidades múltiplas, ou seja, casos psiquiátricos. Muitos pacientes conseguem escrever com letras diferentes e mesmo falar outras línguas.
No fim das contas o que me faz pender a favor não são provas, mas a irretorquível seriedade que permeia todo o Livro do Espíritos. O texto de modo algum é mistificador. Não alimenta superstições. É lógico e coerente. Entende o contato com os espíritos como algo muito sério, convida os homens motivados a estudar e observar, bem como adverte os fúteis a não se servir da mediunidade com fins recreativos.
É cristalina a intenção de nos orientar para a prática do bem e da concórdia entre todos. Há ali um rotundo não ao fanatismo, ao materialismo, à soberba humana. Em nenhum momento o texto tenta conquistar o leitor por lhe afagar a vaidade. O amor que ali transparece é genuíno.
Pontos há que mereceriam alguma crítica, acho eu, mas que não mancham o conjunto. O texto é muito sério. Se o Kardec o houvesse fabricado, se ele fosse falso, muitas pistas de uma personalidade perversa se fariam notar. Nesse caso, logo o meu interesse pelo assunto se apagaria.
Mas o fato é que o texto é bom! E parece ser de um bom sujeito (ou bons espíritos!). E o organizador do livro, corajosamente, convida cada leitor a estudar, observar e concluir por si mesmo. Vou acabar fazendo isto um dia desses, mas não agora…
O Inter acabou de fazer 2×1, o Grêmio está perdendo pro mistão do Vasco e eu preciso ver isso com meus próprios olhos.
Luiz Eduardo marmoteiro Ulrich
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