Há três anos moro na cidade de Saitama, a vizinha pobre de Tóquio. Mais precisamente, duas estações separam-me da capital japonesa.
Ainda bem. Pois, ao contrário do coração financeiro do Japao, pode-se dizer que Saitama é uma cidade pacata. Sem estresse. Imaginem aquele tipo de lugar que você começa a expedição e, quando menos espera, está perdido em um arrozal. Pois Saitama é esta cidade.
Posto assim, pode-se concluir que Saitama não e lá muito conhecida por sua vida noturna. Que a cidade seria apenas uma grande extensão verde e mais nada.
Pois engana-se, caro amigo. Saitama tem um grande estádio do futebol – onde houve até mesmo um do jogos do Brasil contra a Turquia, na Copa de 2002 –, shoppings, casas de jogos, enfim: tudo o que pode atrair um espírito em busca de excitação.
Já Yatsuka, o bairro em que vivo (incluindo seus arredores), é menos convidativo para os aventureiros. A não ser para um aventureiro que resolveu descansar.
Claro, a exemplo de qualquer parte do Japão, tem uma casa de jogos (pachinkos), e um bar aqui, outro acolá…
E um cinema. Para mim, o que basta.
Na verdade, o pequeno Cine Sunshine está localizado no bairro fronteiriço – denominado Souka – e que se alcança apenas cinco minutos caminhando. Possui tão-somente três minúsculas salas de projeção que, em resumo, exibem os filmes que já estão saindo do circuito em Tóquio.
Este cinema, meus caríssimos leitores, é o pouso de minhas sextas à noite. Cansado de lidar a semana toda com Tóquio, é natural que o trabalhador no Japão busque um refúgio. Uns buscam bares, karaokes. Eu busco o Cine Sunshine.
Em uma das meia-dúzias de poltronas existentes, sento-me como um rei, esperando pelo início da projeção. E, dependendo do filme, posso até mesmo ser o único espectador. Como foi o caso do filme “Elizabeth” – pois, afinal, ninguém e louco o suficiente para assistir a um drama pesado inglês, em um cinema dos cafundós, numa noite de sexta-feira. Assim, sendo um feliz representante desta camada de lunáticos, sentia-me como se estivesse em meu cinema particular. E, quando aparecia um outro louco, resolvido a invadir a sessão, ele não se demoraria muito – ou pelo aborrecimento do filme, ou pelo medo da companhia. E, assim, novamente estávamos a sós – Cate Blanchet e eu.
Porém, um cinema não pode viver de dois ou três espectadores. É uma arte de massas e, como tudo neste mundo, precisa do dinheiro para manter-se no mercado.
Assim sendo, há três dias, quando passava em frente ao cinema, foi com grande tristeza no coração que li o anúncio do fechamento do Cine Sunshine. Fechará suas portas na próxima sexta-feira à noite – e, ironicamente, desta vez, não gostaria de ir a sessão.
Estará cheio de espectadores, para despedirem-se do velho cinema.
Prefiro não me despedir. E manter a lembrança das sessões solitárias das noites de sexta-feira…
Comente!