Simplicíssimo

O Sobrevivente

Agachado, em meio à escuridao daquela caverna, temia por seu futuro: seus algozes estavam cada vez mais próximos a seu esconderijo. Podia ouvir o barulho ensurdecedor das máquinas, misturado a vozes, passos… De vez em quando, vinham aqueles flashes de luzes, que ameaçavam revelá-lo a qualquer momento; entregar-lhe o destino às mãos de seus inimigos. Sabia que, por sua vez, também precisava controlar-se: estava olfegante, o coração disparando… Não, precisava controlar-se ou então seria descoberto. Conseguira sobreviver todo aquele tempo, não era por um descuido agora que ia entregar-se. Conseguira sobreviver, bebendo por dias aquele líquido imundo; comendo o que encontrasse – e que não fosse venenoso – pelo caminho. O fato é que conseguira. Sobrevivera até mesmo naquela fatídica noite, em que eles apareceram: as máquinas, as luzes… A voz do líder, gritando em uma língua incompreensível. Dali, em questões de segundos, fizera-se o caos: os disparos, as bombas, cidades inteiras destruídas… Malditos! Vira sua familia ser pulverizada ali, a sua frente, e não pudera fazer nada. Em meio a fumaça, pisando nas cinzas de seu próprio povo, tudo o que pudera fazer fora escapar!… Correr o máximo que pudesse, para onde pudesse esconder-se… E assim estivera, não se sabe há quanto tempo, sendo caçado, escondendo-se! Tentando sobreviver. Tentando garantir a sobrevivência de sua espécie! Sim, sabia que era o último: o silêncio absoluto, os escombros, o vazio das cidades… tudo denunciava uma verdade aterrorizante: estavam todos mortos! Somente ele escapara! Que ironia: destruído por outros povos. Em toda a história, seu mundo havia testemunhado lutas, guerras infindáveis. Tudo parecia caminhar para a auto-destruição: sim, parecia que iriam, por egoísmo e adversidades, matar uns aos outros até o fim! Jamais podia esperar por aquilo: uma invasão espacial! Tais como as estórias que contavam para assustar as crianças, ou aguçar as mentes dos sonhadores! E naquela terrível noite, a ficção tornara-se realidade: o mundo que conhecera estava agora destruído por uma tecnologia superior! E agora, ali estava, agachado, respirando – olfegante, é certo; mas, ainda assim, respirando… Estava vivo! Porém, até quando? Afinal de contas, sentia cada vez mais perto os sons produzidos pelos passos, pelas máquinas letais…

Nisto, teve o rosto revelado pela luz… de uma lanterna. Era o fim.

Fora, ao saber da notícia, os invasores comemoravam: estava morto o último daquela espécie. Aquele planeta havia sido, definitivamente, conquistado.

Alegria geral também no planeta de origem dos invasores. Afinal de contas, agora, os homens eram donos de Marte…

Edweine Loureiro

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