Simplicíssimo

Vazantes

A carroça de bois espia com seus passos compassados a lâmina das águas. Os bois engolem com seus olhos globais a passagem-viagem de todos os dias, sorvendo em suas babas o perfume da mata.

Insílitas águas transmutam os igarapés que rodopiam ante a dança mansa da correnteza que se faz respeito e desembocam em rios. A luz do dia fica ofuscada pelas nuvens dançarinas que modificam a paz da manhã pantaneira.

A paisagem verde, por imposição das árvores, obedece à transcendência dos elementos naturais. A fonte da vida perpassa num instante infindo o constante refazer pueril sem que o olho nu do homem veja. Muitas coisas ainda não são permitidas que o homem tome tento.

A brisa nesse lugar não sopra, apenas sutilmente beija plantas, flores, pássaros, animais que se espreguiçam em touceiras de madressilvas, capim-cidreira, mal-me-queres, captando o aroma peculiar da terra.

O passeio lúdico dos colibris inocentemente debocha da carga que o homem carrega em sua massa racional.

Em côncavo a casinha de sapê observa a cristalização dos céus no espelho da água que se enrodilha por detrás dela. Os azuis da manhã vão se misturando ao amarelo do sol formando um alaranjado refletido nos entremeios dos cipós em busca da flor que sorri sapeca em uma copa diamantada por essa luz.

O cheiro úmido do espaço segura o grito na garganta do escritor, que naquele instante poderia matar sua existência material para misturar-se nessa vazante energética que muitos enxergam, mas poucos vêem.

E o dia segue normal…

Ô, boi da ponta! Compassa boi brasino! Ô! Ô! Ô!

Maria Sarti

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