E, finalmente, a Marina viu o mar. Era coisa muito séria essa vontade, mas não era só mais uma das suas vontades, como todos imaginavam. Ela queria, precisava ver o mar. O estranho desejo de conhecer por fora o que já sabia em si…
Não imaginava tanta imensidão; nem que aquele monte de gente fosse ver o mar no mesmo dia que ela. E veio um vento chato, brincando de jogar grãos de areia nos olhos da marina – o que não é nada engraçado – pensou. Lá o tal de horizonte, que não riscaram direito naquela manhã: devem ter esquecido a régua em casa…Em alguns momentos, parecia meio apagado, quando as ondas insistiam em subir ao céu, interrompendo a linha quase reta.
Mas não era como nos desenhos, o mar que a Marina foi ver. Nem mesmo como o dela, em que o azul da água fitava o do céu, tentando imitar seu tom. Quando o sol dava uma gargalhada, no mar da menina, as ondas deitavam-se a saborear seu calor. O vento, quando vinha, sacudia para o alto espuma branca do mar, formando figuras ao léu. Os grãos de ouro, na praia, buscavam seu lugar ao sol, vezes brigando por mais e mais brilho. E era assim para a Marina, que não achou o que estava procurando…
Seis anos de espera, de sonhos com o mar. Toda a vida imaginando, saboreando e sentindo o cheiro dos castelos de areia.
Naquele dia, ao ver a imensidão – de água, de gente, de tudo -, titubeou ao botar os pés na beira. Empurrada por malucos correndo para o fundo, Marina queria mais era ir embora dali. Medo, calor, água gelada, e a decepção por um mar que ela sabia ser diferente daquele. Sentou na pontinha da areia, fugindo das ondas metidas que vinham chamá-la para dentro. Chorou, chorou, chorou; os braços abraçando as perninhas dobradas, e as lágrimas fazendo troça para os grãos de ouro. Muitos pingos, e cada vez mais. De repente, tudo era silêncio, e lá foi ela andando ao mar. O seu.
Por longos anos, pescadores assistiram à dança de Marina, sacundindo as ondas com suas pontas de estrela,formando figuras no céu, imitando a cor dourada do sol.
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