Simplicíssimo

Tom de Silêncio

Fico assustada com o céu, quando se põe assim. Escuro. Cinzento. Me acinzo um pouco, pra combinar com o tom das nuvens. Não que goste. Mas acaba acontecendo de ficar ventando pelo dia, esse ventinho frio que corta. Tem sua graça, dia assim. De assustador, tem um pouco, parece que esconde segredos. Tem, isso sim, silêncio no tom do céu. Um silêncio casmurro, que insiste em não falar. Nem chover. Fica uma quietude misteriosa, não se sabe se chove no final, se fica mormaço, se enfim chega um solzinho. Fica essa coisa rançosa no céu, no dia, no ânimo. Uma dúvida, um céu fechado, uma soberba. Tem um tom de sol, no fundo do céu, numa das gavetas. Tudo escondido.
Ficamos nós com tons de céu cinzento. Um tom de realismo fantástico na atmosfera. Um céu que não conta o final. Um capítulo à parte na semana, que não anuncia as próximas páginas. Imaginemos nós. Um sol que não surge, chuva guardada, nuvens deitadas, espichadas. E essa dúvida, que o mormaço deixa. Mormaço escuro, mormaço claro. Mormaço.

Betina Mariante

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