Simplicíssimo

Grandes Encrencas (Continuou!!)

Acordou não sabe quanto tempo depois, estava sendo carregado nas costas por um ser de pele escura, gelada, e úmida. Não pode levantar a cabeça, sentia uma dor na nuca como nunca houvera sentido antes, o ritmo da caminhada era frenético, e pelos sons ao redor o ambiente era fechado e faziam parte de uma caravana; o grupo que caminhava junto era grande e barulhento, o ar era quente.

Com a visão embaçada pela pancada, tentou analisar o chão para ter uma noção melhor do local. No entanto, a dor que ainda esmagava a sua nuca não cessava e o passo turbulento da criatura deixava a tarefa mais difícil. Raramente ouvia alguns grunhidos guturais vindos das criaturas e de tempos em tempos sentia um odor fétido de restos em decomposição, misturados com o suor da criatura e o cheiro de mofo das peles que circundavam o que parecia ser a sua cintura.

"Estamos descendo", pensou ele, quando o corredor fez uma curva para a direita e o ritmo da caminhada mudou para algo parecido com o descer de uma escada. A escadaria durou por muito tempo e o ar tornou-se mais respirável, não menos quente.

Enquanto desciam à escada, não pôde deixar de ouvir barulhos familiares. O tintilar de peças metálicas, estampidos abafados como se alguém usasse um enorme martelo de madeira, e o ranger grave e estalado do que parecia ser um moinho ou uma enorme engrenagem de madeira. "Isto não é um calabouço, não sei o que é, mas está muito agitado para ser um calabouço".

A esta altura já não sabia há quanto tempo, e nem qual a distância que tinham percorrido, talvez tivesse cochilado por algumas vezes no ombro da criatura.

Vindo de traz do grupo que caminhava, do fundo do túnel, ouviram-se rugidos e sons de marcha, os quais deixaram as criaturas alvoroçadas e visivelmente nervosas, os grunhidos entre os componentes do grupo aumentaram. Nervosos, deixaram os poucos homens que sobraram amontoados todos juntos e amarrados após uma curva fechada à esquerda, e então percebeu o que não havia notado até então, também tinha os pés e mãos amarrados.

Após ser atirado junto dos homens, alguns desacordados e a maioria sã, viu rapidamente a silhueta dos seres que os mantinham cativos, eram mais fortes e maiores do que o maior homem que já vira, tinham orelhas altas e pontudas como de morcegos, e usavam apenas uma tanga de pele, e uma espécie de espada larga e mal acabada. "Um serviço muito mal feito!", na opinião do especialista.

"Este feioso grandão deve ser o líder", pensou ao ver a criatura que aparentemente mandava no grupo, agora podia contar, eram pelo menos doze e organizavam-se para um ataque contra aqueles que vinham de traz.

O corredor rochoso não era muito largo e logo a massa de criaturas que urravam e emitiam guinchos estridentes chegaria a eles.

O som da batalha era horrível. Jamais ouvira algo dessa forma. Estava acostumado com vozes humanas gritando, mas aquilo era assustador. Mais assustador ainda quando se está com os pés e mãos amarrados.

Logo o embate começou. Retorcendo-se de um lado para o outro para fugir das pisadas, conseguiu se esgueirar para perto de um de seus colegas que fora jogado morto.

A armadura do guerreiro morto encontrava-se com uma perfuração de espada no peitoral e uma parte do metal estava rasgada como uma folha de papel, formando um bico afiado. Começou então a cortar a corda, que era feita de uma espécie de crina de um animal que sem dúvida não era um cavalo. Conseguiu cortar a corda e um pouco da perna. (cicatriz essa que teria para o resto da vida)

Logo que ficou de pé, já teve que desviar de um escudo que vinha do refugo de um golpe de massa de uma das criaturas sobre seu oponente.

Como um grande guerreiro levou a mão ao punho da espada, mas teve a decepção: esta lhe fora tomada enquanto era carregado.

Mais ao lado, havia algumas pedras e escombros. Conseguiu se esticar e alcançar um pedaço de rocha do tamanho de um melão. Arremessou a pedra contra a multidão, pois certamente estaria lucrando com qualquer um que derrubasse.

Marcos Pedroso

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