A pedra acertou bem na têmpora de um dos bichos de orelha pontuda.
Logo este cambaleou e a espada do adversário entrou-lhe pelo ventre. Caiu no chão com as vísceras rasgadas e o sangue púrpuro escorrendo pelo buraco da espada e pela pedrada que lhe lavara a cabeça e o tórax de sangue.
Quando foi abaixar para pegar outra pedra, sentiu que algo parou na sua frente. Logo sentiu uma pancada na cabeça, quando voltou a si, estava debaixo de uma criatura igual a que acabara de matar, lutando para afastar o punhal que estava prestes a adentrar seu peito. De repente a criatura desfalecendo amoleceu, depositando todo seu peso sobre ele, neste momento sentiu-se quente, era o sangue do morto que, atacado pelas costas, escorria pelo seu tronco.
Vendo a possibilidade de ficar vivo, e arrependendo-se da intromissão em uma briga pessoal, acomodou-se debaixo do mostro que o cobria, de modo a conseguir respirar e ver a batalha. "Melhor eu ficar quietinho até isso aqui acalmar".
Agora com as tochas que os monstros carregavam caídas e espalhadas pelo túnel e a posição afastada do epicentro da luta, sua visão estava melhorada.
Eram todos horríveis e fortíssimos, o grupo de seus cicerones era formado por seres de pele lisa verde-musgo e focinhos protuberantes além das orelhas de morcego. O grupo de oponentes era ainda mais horripilante, peludos, marrons e pretos, cabeças grandes, usavam como uniforme um avental púrpura, nas mãos, espadas e escudos aparentemente feitos todos na mesma forja, "estes sim de bom acabamento", pensou mais uma vez o armeiro.
A batalha era violentíssima, e os peludos levavam vantagem quando ele fazendo uma força descomunal conseguiu se desvencilhar do peso que o cobria, e correr em desabalada carreira túnel abaixo, à exemplo de seus companheiros.Por muito tempo continuaram a correr. O Ar quente fazia arder os pulmões a cada inspirada. O barulho da batalha foi diminuindo, mas mesmo assim a fuga continuou em ritmo acelerado corredor abaixo. Não sabem por quanto tempo correram. Só parou quando viu um de seus companheiros caído no chão e aparentemente desacordado. Era um dos sujeitos de túnica. Usava uma branca, mas que agora estava tingida de terra, sangue e cinza das tochas.
Parou, todos pararam. Era um lugar onde aparentemente o corredor era mais largo, quase como uma sala. Os homens aglomeraram-se em torno daquele que caíra. Enquanto encaminhava-se para também ajudar, verificou que ninguém trouxera tochas, no entanto havia luz no ambiente onde pararam. Espantado ele reparou que a luz vinha de mais adiante, viu também que as paredes a partir daquele ponto eram lisas e bem acabadas, assim como o piso que começava a formar desenhos geométricos regulares.
"O que será que isso significa? Primeiro aquela guarda de peludos, e agora isso!" Antes de se perder em pensamentos, auxiliou o caído e chamou os homens restantes para uma, já tardia, conversa.
-Seja lá para onde vai este túnel, precisamos permanecer juntos. Disse ele para o outro guerreiro que ajudava a acudir o caído.
-Precisamos nos recompor logo para continuar a descer.
– Se conseguíssemos achar uma outra saída para a superfície… Respondeu o Guerreiro ainda ofegante.
– Acredito que não há outra saída a não ser por este caminho. Sussurrou o companheiro caído, agora se recompondo da corrida.
– Esses calabouços já têm lendas suficientes para eu ter certeza do que vamos encontrar lá em baixo. Há quem diga que existem riquezas e outros dizem que há a morte, mas o fato é que poucas pessoas voltaram e uma delas foi meu mestre.
Enquanto o mago falava, os companheiros ajudavam-no a levantar, e à medida que falava o temor e o desespero eram trocados pela curiosidade e vontade de seguir adiante.
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