Acordei pesado, lento como um trem de ferro, mas de ferro só no peso e na rudeza. Movimentos pesados pensamentos pesados enferrujados, enferrados, ferrados.
Levantei-me como quem deita, saí pensando no voltar. Arrastando-me pelas ruas, indo automático, tentei justificar minha condição com alguns pensamentos.
Saúde, tenho saúde, uma saúde física relativamente boa, estável, pensei então em quem não a tem… O medo. Hoje tenho um trabalho, exerço minhas funções, que ao menos para mim, são relevantes. Senti medo, medo do desemprego…
Descasquei o sentimento, fui à palavra:
me.do
(ê) (lat metu) sm 1 Sentimento de grande inquietação diante de um perigo real ou imaginário, de uma ameaça; pavor, temor, terror. 2 Receio.
re.cei.o
(de recear) sm 1 Incerteza ou hesitação, acompanhada de temor. 2 Apreensão, angústia.
a.pre.en.são
(lat apprehensione) sf 1 Ato ou efeito de apreender. 2 Ação de retirar pessoa ou coisa do poder de alguém, por medida policial ou mandado judiciário. 3 Preocupação, receio, temor. 4 Compreensão, percepção.
an.gús.tia
(lat angustia) sf 1 Espaço reduzido; estreiteza. 2 Aflição, sofrimento.
a.fli.ção
(lat afflictione) sf 1 Ansiedade, inquietação. 2 Padecimento físico; tormento, tristeza.
(e percebi que desta forma não acabaria nunca).
Da palavra passei pela idéia, pelo conceito cheguei à essência, pelo menos naquele momento.
Motivos para ter medo: Morte, violência, necessidade, solidão, multidão! Ser feliz, medo da felicidade, do amor, medo de que as coisas dêem certo.
Há muito pouco fomos levados a acreditar, sob a batuta de um sagaz marqueteiro, que o povo brasileiro, até então, tinha medo de ser feliz – que hora ingrata, meu Deus!
Votamos na promessa de virada, votamos na esperança, subiu ao poder a equipe do bem, com um histórico de lutas proletárias respeitável, culminando com o episódio da posse e a declaração de que o primeiro diploma da vida do eleito era exatamente aquele de presidente dado pelo povo, e entregue com pompa e circunstância pelo TRE. Nosso pobre país mal sabia!
E fazendo outra volta, o medo, o sentindo da D. Regina Duarte do Restelo, aquele medo agourento que poderia passar em branco como apenas mais uma arma de campanha eleitoral, se não estivéssemos enfrentando o medo generalizado de hoje. – Quem é inocente? Esta deveria ser a pergunta de todas as CPIs.
Pois bem, este medo, que ao menos para D. Regina do Restelo não passou, já está aí, já ou ainda? Ameaçando como fez Adamastor a Vasco e suas naus.
Eis que o gigante Adamastor está aí, urrando e babando pelo que o povo criou até agora, ameaçando nossa frágil estabilidade, pequena, frágil mas toda nossa, nossa moeda, nossa economia, nossa balança comercial, nossa salário mínimo, nossa inflação.
Esta ameaça, que pode, se confirmada, acabar com tudo que a duras penas conseguimos, tudo que foi comprado com nosso suor!
Trabalho árduo, olho no governo, e quem sabe este Adamastor não se revele apenas um vento, que ao passar vai levar a poeira e a sujeira.
Oxalá, meu Deus!
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