Um modo de mudar reações emocionais instintivas é o de fornecer nova linguagem que facilitará novas reações. Por “nova linguagem”, eu quero dizer não apenas novas palavras, mas também criativos usos mau uso – palavras familiares usadas de maneiras que inicialmente podem soar malucas. Algo considerado tradicionalmente como uma abominação moral pode tornar-se um objeto de satisfação geral, ou inversamente, enquanto um resultado do aumento de popularidade de uma descrição alternativa do que é o caso. Tal popularidade amplia o espaço lógico por meio de tornar as descrições de situações que usadas para parecerem loucas, soam então com sadias. No passado, por exemplo, teria soado maluco descrever o coito anal homossexual (sodomy) como uma expressão como uma expressão de devoção (…). Mas agora [tal descrição está] adquirindo popularidade ([1991] Truth and progress. NY: Cambridge, 1998, p. 204). (grifos meus).
Quero que o leitor volte a este trecho, depois do artigo lido por inteiro.
O primeiro, “Philadelphia ”, veio com o início da época do “politicamente correto”. O genial Tom Hanks protagonizou um executivo que fez da condição de aidético discriminado e despedido do emprego uma nova forma de luta por direitos civis. Não à toa a cidade de Philadelphia – berço da democracia americana – foi escolhida! Não à toa seu advogado, que no início nem quis pegar o caso, era negro (Denzi Whashington). Fazia sentido, na época do filme, repreender quem chamasse um homossexual de “fag” ou “bicha” e assim por diante. A idéia básica era a seguinte: gays amam, e talvez sejam até mais sensíveis do que os não-gays. Quem sabe se não está na “atitude gay” a melhor descrição do que seria o homem na sua tentativa de se manter humano, diferente dos seres brutos? Então, se é assim, é melhor que tomemos cuidado com as palavras que usamos para eles, pois elas, até agora, só são deboches – este era o clima da época.
O filme mostra o fim de uma época: o fim dos filmes gays que quiseram participar da revolução semântica. Não esgotaram o tema, é claro. E nem é um filme que impede outro de superá-lo. Mas pode ser dito o “último” pelo fato de ter cumprido o que agora podemos perceber como sendo uma trilogia. Uma trilogia que se fez “espontaneamente”. Ele completou o quatro pois foi a volta do amor gay ao terreno do simples amor. Ou seja, o amor gay, agora, em nada difere do amor, e retorna ao problema do amor que aparece na maioria dos romances “água com açúcar”: o desencontro – a não realização completa do amor, tendo como palco a Terra.
Paulo Ghiraldelli Jr. “O filósofo da cidade de São Paulo”
PS.1 Veja aqui o vídeo feito para acompanhar este texto.
PS.2 Veja aqui para onde temos de olhar: a barbárie
Comente!