Ontem à noite assistimos no Jornal da Globo uma lamentável notícia: “Arcebispo excomunga médicos e parentes de menina que fez aborto depois de ser estuprada”. E decididos a falar sobre isso no Simplicíssimo, começamos a fazer anotações sobre o tema. Mas o excelente comentário de Arnaldo Jabor acabou usando todas elas:
Se por um lado o médico afirma que “Há duas indicações legais no abortamento previsto em lei, que é o estupro e o risco de vida. Ela está incluída nos dois“, por outro o arcebispo deixa muito claro: “A lei de Deus está acima de qualquer lei humana”. Seguindo por essa linha de pensamento, nos questionamos se também não deveriam ter sido incluídos na pena os legisladores que fizeram tal regra. E, ao pé da letra toda, seriam excluídos também os que usam camisinha, os que transam sem fins reprodutivos, os que são homossexuais, os pedófilos e blá blá blá. Aliás, não sei se sobraria algum padre para contar história. E aquilo do perdão setenta vezes sete? Era conversa pra boi dormir ou apenas um atrativo para não esvaziar a arrecadação da Igreja?
Ah sim, “a lei de Deus”. Mas de que Deus estamos falando em terra de tantas religiões? Ao ler o livro “As Cruzadas Vistas Pelos Árabes”, nos perguntamos: afinal de que lado esse Deus católico está, se deveria estar ao lado de todos? Saindo em defesa do seu Deus e desconsiderando os demais, não estariam estes homens de batina legislando acima da lei divina e, por isso mesmo, meritórios de excomungo? Outro livro, o “Evangelho segundo Jesus Cristo”, de José Saramago, os faz questionar as certezas pregadas na cruz. Mas não se preocupe, ele já foi considerado pelo Prelado português "um livro blasfemo, espezinhador da verdade histórica e difamador dos maiores personagens do Novo Testamento”.
Ah, antes que nos avisem, já sabemos o que será de nós se esse texto cair em mãos fedentas (neologismo relativo aos que tem sede de fé)… Enfim, o jeito é esperar que Deus apareça do nada e nos diga o que é certo e o que é errado e, enquanto isso não acontece, muitos mais excomungos se interporão. Mas cá entre nós, com tanta vontade que não vemos hoje em dia das pessoas em serem católicas, quem realmente se importará?
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