Simplicíssimo

Missi(ssipi)

Missi era uma cadela adorável. Cruza de cão de raça e vira-lata, tinha acessos de canguru ao receber o dono. No porão, onde estava sua cama, divertia-se com tudo o que estivesse ao alcance. Nem deu bola ao ficar azul (e não foi de raiva) quando derrubou uma lata de tinta sobre si. As plantas da casa, adorava. Colheu cada uma ao seu modo e lá se foi o jardim. Por vezes devia se imaginar uma Ferrari ou outro fórmula 1. Disparava numa velocidade espantosa, curvando as próprias orelhas para alcançar uma melhor aerodinâmica. Desde pequena, adorava um colo e fazia do dedo de Ambrósio uma chupeta tão tranqüilizadora, que o tempo não teve coragem de tirar (nem o dono).

Um não tão belo dia assim, esqueceu-se o portão aberto, esqueceu-se dela. E foi só dor o retorno, ao deparar-se com um grande vazio no pátio. Uma empreitada pela vizinhança, um vasculhamento pelo bairro. Nada. O mutirão de amigos, os cartazes espalhados pelas quitandas, postes e salões de beleza. Ainda o nada, ainda a dor.

E após alguns dias, quando a esperança se desmanchava em névoa, que tudo se desenrolou. Do outro lado da rua, cheirando o chão, com o rabo baixo e o pêlo sujo, Missi apareceu. Num grito de alegria e com o coração subitamente acelerado, Ambrósio chamou-a e obteve resposta. Olhos brilharam, latidos ecoaram, o rabo ergueu-se em festa. A canguru-ferrari disparou em sua direção. E, no meio da rua, um carro atravessou a história, rasgando a página e emudecendo a todos.

Eduardo H. Sabbi e Ibbas Filho

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