Tem dessas coisas que a gente não explica, simplesmente acontece, é assim. E o primeiro mate a gente nunca esquece. O meu lembro até hoje. Cuia, bomba e erva. Água chiando na chaleira. Como tem que ser. É isso, o primeiro mate a gente nunca esquece. Tudo bem que eu estava em boa companhia. Papo vai, papo vem, outras coisas foram e voltaram. E por debaixo do vestido da prenda, me deparei com aquele sutiã. Sim, bem lembrado, o primeiro sutiã a gente nunca esquece. Meu dedo prendeu no grampo e segurei o grito de dor com o mate quente. Ah, o primeiro mate a gente nunca esquece. Tudo como em aula inaugural. Aliás, aula inaugural a gente também nunca esquece. Mas também a gente se surpreende. Não é que o bicho resolveu não cooperar?! Ah meu amigo, a primeira brochada a gente nunca esquece. Engoli seco, digo, molhado, com aquele primeiro mate que fiz. Sim, o primeiro mate a gente nunca esquece. Deixei a chinoca em casa e fui para o barranco liberar a tensão. Ali estava minha ovelha querida, companheiraça da primeira viagem. E nem te conto, mas a primeira ovelha de barranqueio a gente nunca esquece. E tome mate. Água ainda quente na térmica. O primeiro mate que a gente nunca esquece. Mas dali segui o rumo, ainda irritado e sem entender como tudo aquilo se assucedeu. Coisa difícil de gaudério algum aceitar. Sai amolando a faca na rua quando cruzou por mim um vivente me olhando debochado. Estraguei o fio nas tripas dele. Foi uma sangueira de dar dó. Meu primeiro crime. E primeiro crime a gente nunca esquece. Guardei a faca na guaiaca e me detive ao meu mate. Sim, o primeiro mate, aquele que a gente nunca esquece. Agora eu tava tranquilo, de alma lavada, de vermelho forte. Foi quando chegaram os homens, de camburão e tudo. Se aproveitaram da minha energia gasta e foram logo me levando prá delegacia. Uma noite inteirinha trancafiado numa cela. A primeira prisão a gente nunca esquece. Era só eu, o colchão de mola e, obviamente, o meu mate. Porque o primeiro mate a gente nunca esquece. Mas explicar o quê quando chegar em casa? Fui logo dizendo: amnésia. Não recordo de nada, não aconteceu nada. Isso na minha mão? Ah sim, isso eu não esqueço (pausa para um mate). Porque o primeiro mate a gente nunca esquece …
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*Este conto gerou outro, “O primeiro mate a gente nunca esquece II”, de Afonso Santana.
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