Simplicíssimo

Amor Presente

Soprava forte o vento naquele pequeno casebre mal cuidado. Ana Lia era uma senhora já de idade que adorava as festas natalinas, trabalhava com enfeites natalinos de todo tipo. Alguns artesanais fabricados ali mesmo. Nesse ano decidiu diminuir a produção e deixar tudo a cargo de sua filha Adriana.

Gregório era um rapaz que vivia as turras com sua esposa, brigavam quase todos os dias, principalmente quando era época de natal. Ele odiava todo tipo cenário relacionado à festa. Sua mulher, por sua vez adorava. Eles tinham brigado há pouco quando se acusaram mutuamente de não amarem de verdade o outro. Fizeram uma aposta então:
Gerlânia, sua esposa, trataria de convidar todos os seus amigos e tratá-los da melhor maneira possível satisfazendo-os em seus mais variados gostos. Já Gregório ficava encarregado de montar a árvore de natal e tudo que complementasse a decoração natalina de sua casa.
Na véspera do grande dia Gregório não tinha aprontado nada do cenário e era repreendido por sua esposa:
—Poxa Gregório, você pelo jeito não vai nem se esforçar. A festa já será amanhã e você não comprou sequer um arranjo dos mais simples pra gente pendurar na porta.
—Querida, tudo a seu tempo, resolverei isso rapidinho. E meus amigos? Falou com todos aqueles da lista que te dei? Falou com Eduardo?
—Não, poxa, tenho mesmo que contatar aquele sujeito? Ele não é boa companhia, influência ou exemplo para você.
—Epa, você é minha esposa e não minha mãe. E o amigo é meu, não é você que tem que gostar dele.
—Tá bom, como te amo, mesmo você duvidando, irei provar pra você.
Um dia depois, na tarde do dia 24 de dezembro daquele ano Gerlânia explodiu de raiva:
—Ah desisto, eu mesma vou cuidar de tudo. Sei que você não irá fazer nada mesmo.
Gregório se defendia:
—Não, nada disso, agora você poderia ir comigo lá pra comprar as coisas, dar uma ajuda.
—Ok, vamos então:
Chegando lá os dois tiveram uma surpresa nada agradável:
Encontraram Dona Ana Lia caída no chão e tudo revirado. Quando iam se aproximando dela ouviram:
—No chão os dois, pro chão, rápido. Estávamos fugindo e agora temos que passar um tempinho aqui, pelo menos até a barra limpar. Então fiquem aí quietinhos que nada de mal irá acontecer.
Os dois então obedeceram. Estavam apavorados, pois nunca tinham vivido nada parecido. A vontade de ambos era que seu companheiro saísse vivo dali, já não se importavam mais com a própria vida. Depois de longas 3h de pavor, finalmente aqueles fugitivos iam embora os deixando em paz. Depois disso, o que se via a noite era um cenário totalmente enfeitado e um diálogo totalmente amistoso entre Gerlânia e Eduardo.
—Prazer, se é amigo de meu marido deve ser meu amigo também, volte sempre, dizia ao se despedir.
Gregório boquiaberto dizia:
—Você tratou tão bem ele que fiquei até com ciúmes. Porque hein? Pode me explicar?
—Ora, ora,ora, quando estávamos ali presos prometi que trataria até o mais antipático amigo seu da melhor forma possível, mas o que queria mesmo era ter meu amor de volta. E você? Onde aprendeu a organizar casas para o natal hein? Faz um curso intensivo de algumas horas foi?
—É, acho que você não foi a única que fez promessas naquela hora. Mas agradeça a Adriana, ela me deu uma baita ajuda.
—Adriana né? Sei…
—Querida, não comece, ninguém no mundo conseguiria que eu fosse gastar quase um dia todo me preocupando com arrumação de natal. Você não percebeu que te amo mais que tudo nessa vida?
—É, querido, acho que apesar de brigarmos de vez em quando, nos amamos de verdade, pois aturar aquele teu amigo foi mais difícil que ficar ali agachada com medo de levar um tiro. O cara é insuportável, mas o tratei bem porque realmente te amo.
E os dois então viviam aquela noite de natal em que a certeza de se amarem foi disparado o melhor de todos os presentes.

Frank Santos

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