— Poxa, que tédio… Ao mesmo tempo em que tudo parece perfeito, é tão vazio, como se faltassem alguns pedaços, alguma graça, algum objetivo maior. —Então se lembrava daquele seu amigo: — Poxa, Bernardo é que ta bem, minha vida é tão sem graça, acho que a dele não. Arrepender-se-ia desses pensamentos dias depois…
Jairzinho se via na escola, sentado ao lado de seu amigo Bernardo. A professora acabava de explicar sobre o trabalho em dupla que seria a única nota daquela matéria. Logo, Bernardo se aproximava de Jairzinho e então aquela dupla estava formada. Bernardo era calado, introspectivo e participava menos das ações necessárias à conclusão daquele trabalho, mas ajudava em alguns detalhes importantes. Então a amizade dos dois ia se fortalecendo com a convivência, companheirismo e com o sucesso de ambos em todos os trabalhos da escola.
Jairzinho ia vivendo seus dias e se sentindo sempre da mesma forma quando chegava da escola, cada vez mais entediado com sua rotina. Até que um dia alguma coisa mudou… Cansado, não era raro se notar acordando nos mais diversos lugares da casa depois de ter caído no sono. E foi assim especialmente em um dia que se tornaria tão importante para ele…
Ele e Bernardo voltavam pra casa no mesmo ônibus, mas antes tinham sempre que atravessar a pé movimentados trechos de cidade. Paciência era a palavra certa para descrever sobre um dos principais requisitos necessários para se andar seguro por ali. Nisso, Bernardo era mais virtuoso, enquanto que Jairzinho fazia mais o tipo desligado. Várias vezes Bernardo parava Jairzinho, alertando-o para ter cuidado. Certa vez foi fortemente repreendido:
— Poxa Bernardo, não sou criança, eu sei andar sozinho… Que mania chata você tem de ficar me avisando do óbvio. —Bernardo então baixou a cabeça e pensou consigo mesmo, chegando à conclusão que talvez exagerasse um pouco. Dias depois saberia que não…
Os dois andavam do mesmo jeito, só que agora Bernardo se policiava para não prestar tanta atenção na segurança de Jairzinho. Então de repente tudo acontecia muito rápido: uma estrondosa batida entre 3 carros fazia de Jairzinho a mais grave vítima.
Já no hospital ele ouvia mesmo quase inconsciente as palavras do amigo:
— Poxa amigo, não me deixa não… Minha vida é tão sem graça, você é o único amigo verdadeiro que eu tenho…
E foi depois disso, que para sua surpresa, Jairzinho acordava não em uma cama de hospital, mas em casa, e segundos depois podia comemorar por tudo aquilo ser um longo pesadelo. Agradecia então aos céus por poder ter ainda a chance de dar um valor maior a sua vida, ou pelo menos, a sua saúde.
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