Quitéria vivia num mundo o qual chamava de absurdo. Nele de tudo tinha, lembranças do que queria esquecer, esperanças de novas oportunidades, alegrias por realizações ao mesmo tempo que encantamentos pelo inalcançável. Ela se perguntava constantemente o porquê do magnetismo que certas coisas impossíveis lhe causavam. Perdia até o sono pensando nisso, mas costumava sonhar com a realidade que a fazia feliz. Amava e era amada, sorria e fazia sorrir. Lembrava e era lembrada. A cada momento vivia as provas do quanto bom era seu presente. Mas, longe dali também era sondada pelo incerto, pelo obscuro. Em alguns momentos via-se seduzida a mergulhar de cabeça em algo que não conhecia, mas que lhe sugava os olhos. Hipnotizada ficava, mas sempre que voltava ao normal refletia melhor e chegava a mesma conclusão de sempre: não, não vale a pena arriscar o certo pelo duvidoso, o real gosto de uma troca que comprovadamente a fazia feliz, por uma aventura que poderia nunca nem sequer começar. Quitéria torcia profundamente pra que aquela atração desaparecesse, pois solidificaria a certeza do caminho certo, sem desvios, por mais encantadores e perigosos que eles fossem.
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