Simplicíssimo

Inacabado?

A história só se repete de duas formas: como farsa ou como comédia. Ele, ali, sentado, torcia para que ao menos fosse verdadeira a segunda opção. O fato é que durante todos aqueles cinco anos ele aproveitou sua vida como pôde, mas não conseguiu tirá-la da cabeça. A impressão é de que tinha um assunto não acabado com ela, embora a própria tenha repetido que tudo, TUDO, estava acabado. Várias vezes.

Ele, teimoso, nunca a escutou. Tentar, tentar, sempre tentar. Às vezes dava um tempo e esperava que ela viesse a ele, preocupada. Dava certo. Então, ela se importava mesmo! E isso reacendia o desejo de um próximo último beijo, ou talvez uma próxima última… Dança.

Naquele baile, naquela noite, ele iria chamá-la para a valsa. Uma valsa da meia-noite, como foram longas as noites sem ela! Uma valsa, uma conversa ao pé do ouvido… E talvez ele a ganhasse, talvez eles terminassem juntos.

Ajeitou o paletó, apertou a gravata. Estava, como sempre, determinado. Ao mesmo tempo, confuso por não entender como faria isso acontecer, o que falaria… O que teria de tão tentador para fazê-la cair em seus braços? Procurara as palavras corretas por muitos dias. Até que entendeu, é claro, que não havia certo ou errado. Pelo menos não quando o assunto eram os dois.

Saindo de casa, ainda conseguiu roubar uma rosa do jardim do vizinho. Ele iria reclamar, mas era por um bom motivo. Seguiu com o carro para a festa.

Estacionou. Desceu. Entrou no grande salão, decorado com faixas vermelhas e douradas. Não foi nada difícil encontrá-la: ela se destacava em meio à multidão, não só por sua magreza (felizmente estava mais saudável que antes), mas por seus olhos ligeiramente puxados e seu sorriso atencioso.

Seu sangue fervia. Quando os olhares se cruzaram, foi incrível, explosivo. Ela não parecia decepcionada, ao menos.

Ele se aproximou. Antes que ela pudesse reclamar de sua presença inoportuna ali ou pedir para que se retirasse – o que, em seu pensamento, era a maior chance -, entregou-lhe a rosa e disse-lhe um "parabéns".

– Sabia que você ia aparecer aqui! Você sempre aparece nessas horas…

– Desculpe se te magoei estando aqui, mas…

– Não! Você chegou na hora certa.

E assim ele conquistou a valsa, a dama e diversos próximos beijos – que jamais serão os últimos, afinal. Um romance de inverno, inesperado como chuva de verão.

 

Mariana Barbosa Ferraz Gominho

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