São Paulo, 01 de dezembro de 2006.
A BATALHA
19:00 hs.
Primeiro round: Eles mandam “PQP, pisa no freio Zé”…, eu mando “Olhos nos olhos, quero ver o que você tem…”, bem alto, no falante do computador.
Segundo round: Eles mandam “Aí eu bebo, aí eu bebo, bebo pra c…”, a conexão da rádio Uol trava… Arranco meus cabelos, praguejo aos céus.
Terceiro round: Eles mandam “Não olhe assim, não, você é linda demais…”, eu mando “…mas trago de cabeça uma canção no rádio, em que um antigo compositor…”, pronto, passava…
Uma pausa pro descanso dos “cantores”… Eu mando em volume normal “eu sou a filha da chiquita bacana…” Alívio imediato.
Quarto round: Chico inspirava-me na planilha, as fórmulas desenrolavam-se, os resultados apareciam, ao som de “quando seu moço nasceu meu rebento não era o momento dele rebentar…”. Mas, nem tudo são flores, e eles voltam, mandando alto, junto com o público “Ai, ai, ai, ai esse amor é booooommm demaaaaiiis…”. A planilha trava de novo…
21:35 hs. Novo descanso, e Elis sonhava “os sonhos mais lindos…”, praticamente completando as fórmulas que faltavam. Vamos aos testes.
Quinto round: Chegam com tudo, cumprimentam de novo o público, já bastante embriagado e empolgado, pedindo a participação de todos, mandando forte “Menina veneno, o mundo é pequeno demais pra nós dois…”, se ainda tentassem imitar o Ritchie, dá até pra engolir, mas com aquela voz tremida me acaba. Aliás, acabou também a seleção da Elis… Calma, faltam poucos testes.
Último round: 22:00 hs. A lei não permite música na rua após este horário. Eles se despedem do público, recebem muitos aplausos. Bendito legislador. Quem foi que disse que político não faz coisa boa? E eu abaixo novamente o volume, terminando o “Cosmotron”, do Skank. Depois descolo um Zéca Baleiro, uma Zélia Duncan, dois Leninis, e todos os testes são feitos, refeitos e aprovados.
Pronto, mando o e-mail pro chefe. Fecho o outlook, a conexão da rádio Uol, desligo o micro, monto na bicicleta e vou pra minha casa, merecendo descanso…
Paralela à Rua São Bento, travessa das Ruas Boa Vista e XV de Novembro, fica a Rua Três de Dezembro. Quase na esquina com a Boa Vista, quatro ou cinco barzinhos colocam, após 18:00 hs às sextas-feiras, suas numerosas cadeirinhas e mesas no calçadão, e recebem os clientes sedentos por cerveja, paqueras, e, claro, uma boa dupla bem trajada de chapéus e botas, cantando o melhor que a mídia resolveu chamar de “sertaneja”, e que os verdadeiros sertanejos não nos leiam… Até aí, tudo bem, o que tenho eu e meu preconceito com isso? Nada, não fosse o detalhe de que a SPTrans, empresa que deposita regularmente meus vencimentos mensais mediante meus préstimos profissionais, não estivesse instalada no número 34 da referida ruazinha…
Marcos Claudino, 37 anos, profissional de RH, adora barzinhos, principalmente ao ar livre numa boa noite de calor, boas companhias e cervejas, mas com um simples fundo musical da Cássia Eller já se contenta…
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