Simplicíssimo

A estrelinha assombrada

         Ela voltou para nos assombrar. A estrelinha assombrada retorna aos nossos lares todos os dias e noites. O julgamento do século, proporções internacionais, novidades quase nenhuma, mas o certo é que qualquer programação trava para o informe das últimas novidades nada novas.

         O fato é que ela saiu da tatuagem do braço da avó e entrou novamente em nossas casas, com sua carinha de anjo, com fundos musicais enternecidos, com frases de efeito da mãe no blog, site, e-mail ou Orkut. Com cartazes lindos e caros exibidos à frente do tribunal.
         Nada tenho contra todos os envolvidos no processo, com as opiniões e atitudes de quem sai de casa para protestar, exigir justiça ou tentar dar um tapa na cara dos acusados.
         O que tenho contra é o pré-julgamento. Não é justo. Ponto. O casal foi condenado pelo primeiro repórter, no instante seguinte à ocorrência policial. Assim como a maluca que mandou o namorado e o cunhado matar os pais. Tudo estava consumado na manchete do jornal, que se disse imparcial.
         Daí o que vemos. Mas não percebemos o que não vemos.
Explico desde o início: Todos são inocentes até que se prove o contrário. Existem milhares de tipos de psicopatas espalhados entre nós. Este que te escreve, o cobrador do ônibus, o jardineiro com cara de nerd. Mas só podem ser considerados como tal após o processo ser fechado, com todas as provas. Antes disso, seria menos injusto numa sociedade democrática, que ao menos as reportagens não fossem tendenciosas, preparadas para todos os tipos de desfecho. Porque, dentro do tribunal, existem pessoas preparadas para apresentar acusação, defesa e julgamento. Fora dele, mesmo que seja na porta, será sempre fora de uma alçada justa.
         Imaginem se este casal for absolvido… Pode ser? Quem sabe? Mas já os condenamos há dois anos, e apenas esperamos o martelo definidor do tempo, para sairmos comemorando, tomar umas cervejas e assistir às novidades do BBB mais tarde…
         O que quero dizer é que tudo o que vem acontecendo não é errado, com exceção da imprensa se dizer imparcial. E se a imprensa não fosse tão injusta o tempo todo, a própria população teria reações diferentes e também mais justas.
         Eu tenho minha opinião pessoal, muita parecida com a maioria, mas não represento nenhum órgão de imprensa, e não tenho a intenção de ser imparcial. Nem tenho a intenção de perder meu precioso tempo esperando na frente de tribunal qualquer. Se assim o fosse, não sairia de Brasília por muito tempo.
         Enfim, tendências aparecem, são abraçadas por quem quiser. Todos reconhecem a gravidade do caso, a crueldade do desfecho, mas seria bom que nossas reações se equalizassem de acordo com a gravidade sempre, ou nunca, não a cada dois anos, geralmente apenas com a menina bonita de classe média, branca, preenchendo os quesitos de estereótipos “corretos”, quando sabemos que este e piores tipos de injustiça ocorrem o tempo todo, aqui e lá, mas com pessoas aparentemente não encaixadas nos padrões midiáticos.
         Uma pena que ainda estejamos tão vazios. Dá-nos a noção de que demoraremos, enquanto sociedade, a valorizar o que realmente interessa.
         Marcos Claudino, 40 anos, profissional de Recursos Humanos, vem de vez em quando, não é exemplo pra ninguém, e informa a ausência de cervejas na geladeira até o próximo dia 30. 

Marcos Claudino

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