Simplicíssimo

Ainda somos os mesmos…

 

Olhando pra trás, tentando identificar uma identidade, um fato específico que me fez começar a perturbar as pessoas com meus escritos, não encontro nada em específico.
         Fato principal, sempre carreguei comigo uma não-aceitação imediata. Na verdade podemos classificar isso como pura e simples pré-potência. Aquele complexo de super-homem que em certa idade nos faz sempre ter razão, ou simplesmente achar que temos razão.
         Passado algum tempo sem me dedicar aos escritos, tentando uma inspiração em meio à falta de tempo sempre presente, reli muitos daqueles meus filhos. Ao invés de me animar, desanimei.
         Algo como a sensação do Belchior ao escrever a letra da música “Como Nossos Pais”. Hoje entendo o bigodudo procurado pelo Pânico.
         Não que eu ache tudo que escrevi uma “lhosta”, mas principalmente as crônicas sobre o dia-a-dia, as impressões sobre as atitudes dos outros, as opiniões que emiti sobre o mundo, sempre me colocando num patamar acima. Isso me irritou.
         Não que a pré-potência seja uma característica pura e simplesmente desta besta que te escreve, mas a minha incomoda a mim, a dos outros que incomode aos outros, ou não…
         A cada dia mais pessoas à minha volta chamam-me de “senhor”, a cada dia uma ruga e um fio de cabelo branco jogam-me à cara que estou me tornando meu próprio criticado, e a cada dia as teorias que critiquei com afinco no passado tornaram-se parte de mim.  As guerras que travei, as trincheiras que me enfiei trocaram as bandeiras e eu nem percebi.
         Hoje tenho pouca energia para defender teorias, talvez porque consegui praticar poucas delas. Hoje sou um conjunto de práticas erradas que não consegui mudar, ou nunca sequer tentei.
         Até pra isso eu me atrasei. Talvez esteja tendo a crise dos trinta aos quarenta, ou talvez tenha simplesmente caído a ficha, e eu finalmente tenho a noção mais clara de que minha voz tenha se perdido no universo virtual, sem resposta sequer de mim mesmo.
         Enfim, amigos, precisava passar a vocês alguns porquês de minha ausência, talvez precisasse deixar sair isso de mim para continuar, ou me calar para sempre.
         Parafraseando o final da música, quem dera eu me tornasse um pouco do que foi minha mãe, do que é ela hoje, de sua energia, de seu amor incondicional e despretensioso, de sua honestidade e dignidade, aí sim este texto estaria bem melhor…
         “Nossos ídolos ainda são os mesmos, e as aparências não enganam não…” – Belchior, melhor na voz da mãe da Maria Rita.
 
         Marcos Claudino, 40 anos, profissional de Recursos Humanos, motociclista, corintiano, talvez tenha tomado sol demais na cabeça, mas promete melhorar após o primeiro copo gelado em boa companhia.

Marcos Claudino

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