Simplicíssimo

Bons tempos

São Paulo, 14 de junho de 2005.

 
BELOS TEMPOS…


No meu tempo as coisas não eram assim. No meu tempo as meninas de família casavam virgens. A gente só comia as que não eram de família. No meu tempo, mulher sem vergonha a gente matava de tanta porrada. No meu tempo, chifrudo era ridicularizado. No meu tempo, menino perdia a virgindade com as cabritas do terreno baldio.
No meu tempo, ia-se pra escola pra conseguir um diploma, que seria entregue ao vereador, empregador de bom coração, que prometia nosso emprego e cumpria. No meu tempo, a gente se aposentava no primeiro emprego. Não fazia nada, apenas despachava nas cafeterias, enquanto negrinhos engraxavam nossos sapatos envernizados.
No meu tempo, empregado era empregado, não dava um pio sem nosso consentimento. E a gente era bom com eles. Quando morriam de tanto trabalhar pra gente, pagávamos um caixão, e deixávamos velar o corpo na sala de nossa casa… No meu tempo, bem regrado pela boa época dos escravos, a gente não precisava mandar. No meu tempo, Deus me livre, não havia greves, nem passeatas. O Coronel mandava, e o povo cumpria, até o prefeito e o delegado.
No meu tempo, mulher só saía de casa pra missa, e olhe lá. A gente mantinha o respeito, e escondia bem o corpo do desavergonhado que chegou perto de nossas senhoras. No meu tempo, mãe solteira tinha que virar freira, senão ficava falada. E antes a morte do que isso, sô…
No meu tempo, padre rezava missa, obedecia ao bispo, e fuxicava com a gente, sempre com muito respeito. De vez em quando aparecia um padre moço, que só servia pra colocar idéias erradas na juventude e na mulherada. Algumas das mulheres acabavam se apaixonando por eles, e a gente dava um jeito de mandar os diabinhos pras paróquias mais próximas ao quinto dos infernos… Ah, moço, no meu tempo, Deus fazia as coisas certas pela gente, sim senhor…
No meu tempo, político roubava sim, mas dividia com a gente. Voto era coisa séria, amigo, e a gente comprava tudo direitinho, deixando sempre as coisas como estavam. No meu tempo, política era coisa de doutor, de gente estudada, e se a gente ganhasse a confiança deles, tinha de tudo que queria, muitas vezes sem pedir…
No meu tempo, por tudo que é sagrado, político não falava mal do outro fora da eleição. No meu tempo, esses moços que comandam hoje, ainda nem tinham saído dos cueiros, e achavam que iam revolucionar. No meu tempo, mesada, mensalidade ou mensalão era coisa sagrada, e a gente não saía por aí contando tudo pros jornais, pra imprensa…
Parece coisa de doido, menino, mas acho mesmo que é o final dos tempos. Porque a molecada não aprendeu nada com a gente, não entendeu como a gente era feliz, com as coisas correndo certo, com as mulheres, os negrinhos e os pobres lá, escondidos, sem atrapalhar a cabeça dos homens de bem, que só queriam a felicidade desse país…

Marcos Claudino, 36 anos, profissional de RH, sabe que 10% dos políticos (honestos), acabam com a fama dos demais…

Marcos Claudino

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