Pontual. Às sete e quarenta e quatro a luz se ascendia, ela abria a cortina, a janela, colocava a cabeça pra fora, dez segundos aproximadamente, entrava. Treze minutos depois voltava a colocar a cabeça pra fora, sete segundos e meio, fechava a janela, a cortina, apagava-se a luz. Isso de segunda a sexta-feira. Aos sábados o ritual se repetia, iniciando às nove e cinqüenta e dois. Aos domingos não havia movimentação.
Cabelos longos, pretos, despenteados antes, bem arrumados depois. Pele clara, mãos delicadas. Podia-se acertar os relógios do mundo por ela. Aquela janela, ela.
Durante três seguidos anos eu a acompanhei. Numa manhã nublada, atrasou. Estranhei, assustei. Uma quinta-feira. Dezoito minutos atrasada, ela iniciou o ritual. Estranhei, assustei. Ficou dez minutos na janela, olheiras, uma lágrima que só eu poderia notar, tristeza. Olhou-me fixamente pela primeira vez… Estranhei, assustei, gostei. Estendeu a mão, chamou-me. Voei em sua direção, um misto de alegria e surpresa. Uma pedra lançada do estilingue reforçado do garoto do apartamento 75 arremessou-me contra a parede do prédio oposto, sem vida.
Acho mesmo que não daria certo… Garotas não se relacionam com pardais…
Fim…
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