Capítulo VI – Contatos Imediatos de Todos os Graus…
– Ei moço, se ficar aí as baratas vão fazer banquete do senhor…
Então ele falava a mesma língua… O pescador aproximou-se:
– Muito prazer, meu nome é Antonio. Estendeu a mão a Max, que não entendia o que ele queria com aquilo, e por impulso, ofereceu a sua, apertada e balançada por Antonio.
– E o senhor, o que faz? É pescador/ É novo por aqui?
– Meu nome é Max A-37. Sou vendedor de reatores nucleares na área ZB-48. Não sei o que é um pescador. Acredito que esteja visitando seu mundo através de um distúrbio em meu moderador de descansos noturnos.
– Olha, seu Max, não quero nem saber quem é que compra reatores nucleares por aqui. Do resto que o senhor disse, não entendi direito não… Gostaria de me acompanhar na pescaria de hoje?
Se é pra deixar acontecer, por que não?
Auxiliado por Antonio, Max equilibrou-se numa das extremidades do barco que, lentamente, seguia com as remadas pra longe da praia. Após meia hora, Antonio jogou uma lata cheia de cimento, amarrada por uma corda, ancorando o barco. Apanhou a rede e jogou-a ao mar, com incrível precisão. Sentou-se, acendeu um cigarro de palha, puxou assunto:
– Gosta de comer peixe, Sr. Max?
– Não posso responder a essa pergunta, Sr. Antonio. Não sei do que está falando. Minha alimentação básica consiste em pílulas reguladoras.
– Mas como é que alguém nunca comeu peixe na vida? Hoje em dia, até em lugares distantes do mar, comem e sabem muito bem o que é um peixe…
– Por falar nisso, Sr. Antonio, em que ano estamos?
– Mas essa é muito boa… Estamos em outubro de 1997, moço. Por acaso o senhor veio de outro planeta?
Provavelmente sim… Venho do ano de 2346. Mas, como já disse, estou aqui por algum problema técnico em meu regulador de sono.
Foram interrompidos por um solavanco no barco. Antonio levantou-se e começou a puxar a rede, com dificuldade. Max levantou e tentou ajudar o pescador. Mas serviço braçal não era seu forte e, após o segundo puxão, perdeu o equilíbrio, caindo e debatendo-se no mar. Rapidamente Antonio largou a rede, pulou e tirou Max do desespero, acomodando-o dentro do barco. Novamente pegou a rede, trazendo com ela muitos peixes, que se debatiam ao pé do visitante, assustadíssimo.
– Calma, moço, não demora muito e eles morrem. Não suportam mais de cinco minutos fora da água…
– Mas por que eles têm de morrer? O que o senhor pretende fazer com o cadáver desses andróides?
– Olha meu amigo, essa história de futuro já está me perturbando… Nunca vi ninguém chamar peixe de andróide. Mas sei que esses bichinhos garantem a minha sobrevivência. Eu comercializo a maioria e me alimento com eles.
Max percebeu que a maioria de seus comentários não seriam compreendidos, calando-se. Sentado na extremidade do barco observava Antonio remando. Chegaram à praia e aguardou Antonio retirar os peixes do barco. Este preparou uma fogueira com gravetos, abriu e limpou três peixes, fritou-os e ofereceu a Max, que aguardou o amigo arrancar um pedaço do seu, para tentar fazer igual. À primeira mordida, sem engolir, engasgou com espinhos. Não sabia mastigar direito, mas o sabor era agradável. Comeu dois dos três peixes.
– Confesso que nunca comi andróides antes, mas o sabor pareceu-me bastante agradável, Antonio.
– Olha meu amigo, estou quase acreditando na sua história. Quando o senhor voltar ao seu mundo, pode levar um bocado, mas coloque rapidamente na geladeira, senão estraga…
– Geladeira???
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