Com a palavra a Dona Antonia.
Diferente, no mínimo. Verdadeira, nem sei, não importa… Mas original, impactante e fiel a si mesma.
Ela tem “a palavra”.
Uma negra grande, gorda, ao melhor estilo “Tia Anastácia”.
Dona Antonia fala muito. Uma simples pergunta pode tornar-se uma odisséia, com direito a narrativas avivadas pela presença impressionante e cativante, interpretação sempre original e argumentos sinceros.
Evangélica fervorosa e aparentemente cumpridora das leis que para ela são importantes. Uma ex-gandaieira das melhores, ex-rainha de forrós e bailes que já não existem, e que sabe exatamente onde pode chegar o não obediente às Leis Sagradas que a regem.
Descobriu “a palavra” há anos; ao que tudo indica, influenciada pela filha, carola das melhores, boa professora, sua maior crítica.
Mas o que mais me atrai em Dona Antonia é a aparente fuga da hipocrisia que cerca algumas pessoas, que pensam que a sua fé e sua maneira de encarar e se comportar é a ideal, vivendo e alimentando-se de críticas aos “irmãos”; já que os que não são irmãos não são filhos, mas “criaturas” de Deus.
“Homem não gosta de chegar em casa e encontrar a esposa desarrumada, cheirando a cebola e alho”, diz Dona Antonia. “Homem gosta de esposa apaixonada, uma camisola curta, cheirosa, carinhosa, com tesão, completa”, causando urros de rubor e indignação das companheiras da congregação.Pois não é que Dona Antonia (Deus me livre), dança ao cantar um hino? Onde já se viu isso? Se a vir representar, pensará tratar-se de um outro membro da Fat Family, sem ridicularização, mas com a ginga e swing muito próprios. Ao ouvir os comentários das mais próximas, desdenha e diz que é seu jeito de louvar, tendo certeza de que seu Deus não é triste ou carrancudo.Pasmem, mas Dona Antonia brinca com os netos cansando-os, literalmente. Joga bola, corre, rola no chão, e ouve com pouca resignação às críticas da filha, que diz que uma evangélica não pode se comportar dessa maneira, querendo na verdade dizer que uma senhora de mais de cem quilos não pode se ridicularizar dessa maneira.Pensa que ela liga? Liga sim, e recompõe as forças para começar novas traquinagens com os apaixonantes e apaixonados netos. Pois essa pessoa chora com facilidade, de alegria ou tristeza, e nunca esquece de agradecer ao Pai por tê-la levado ao caminho certo; em sua opinião, a salvação de que ela precisava.E se houver um ser humano com coragem de confrontá-la, que antes coma uma boa feijoada em sua casa, e veja seu olhar brilhante e radiante ao ser atacada a socos e pontapés pelos netos, na luta dos golfinhos do bem contra a baleia assassina. Não sei bem se consegui passar a idéia principal, mas, resumindo-se tudo, no momento em que você me ouvir dizer que o meu modo de vida é correto e o seu é errado, é essa a hora em que você deverá mandar-me ir falar com a Dona Antonia. Marcos Claudino, admirador de seres humanos.
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