São Paulo, 10 de outubro de 2005.
ERA UMA VEZ…
Era uma vez, vejam vocês, um país. Diferente dos outros, vizinhos ou distantes, ougulhava-se de seu solo, de seu clima, da beleza de suas paisagens, da sensualidade de suas mulheres, da virilidade de seus homens, da festa espontânea, que brotava a cada batida, formando novo ritmo…
Era uma vez, vejam vocês, um país. Descasos com a população, corrupção e enganação eram suas marcas lá fora. Descumprimentos de preceitos básicos no trato ao bem público, educação e cultura, igualdade social, pão puro, sem manteiga, amanhecido, chegando como esmola miserável aos miseráveis de direito.
Era uma vez, vejam vocês, um país. Surrupiado de suas riquezas naturais durante séculos, teve sua independência tardia, em favor do roubo interno, excluindo-se a metrópole do surrupio secular…
Era uma vez, vejam vocês, um país. Muito lentamente crescendo. Morosamente dando à população direitos à participação nas decisões públicas, nas escolhas de seus representantes, de suas decisões mais importantes.
Era uma vez, vejam vocês, um país. Cansado da mesmice e do descaso, votou no novo uma vez. Arrependeu-se. Outra vez mudou, e entendeu que o poder é podre. No auge de crise ética séria e histórica, decidiu se era correto a comercialização ou não de armas de fogo. Acabada a apuração, voltou ao lar, abriu a geladeira, abriu uma latinha de cerveja, esticou os pés no sofá, assistiu ao inédito capítulo da novela idêntica à anterior e à próxima. Antes de pegar no sono no sofá da sala, um suspiro orgulhoso, e a grata sensação do dever cumprido, com a certeza absoluta de que amanhã será melhor que hoje…
Marcos Claudino
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