Destaque-se a simpatia e carisma das duas bandas. Simpatia dentro e fora dos palcos, integração e atenção com a imprensa e com o público, frases em português cuidadosamente escolhidas, interação mútua.
A vinda dos Rolling Stones e U-2 ao Brasil marcou fora de toda a parafernália ufanista criada pela mídia. Independentemente da propaganda e lucros gerados, deu uma boa lição a astros momentâneos que passam por nossas terras, cobrem-se de regalias publicamente divulgadas, fogem dos fãs e imprensa, e quando cedem uma ou outra entrevista, mostram claramente sua superioridade “moral” nestas terras subdesenvolvidas, seu asco declarado, sua empáfia e pressa em pegar logo o dinheiro e ir embora desse fim de mundo.
Particularmente, nunca fui fã de ninguém. Admiro artistas da mesma forma que admiro pessoas que se destacam em suas profissões, que se esforçam para executar bem a atividade à qual estão sendo pagas para tal. Genialidades existem, chegam, deixam sua mensagem e vão. Ficamos nós, plebe, massa de modelar, a executar realmente, a fazer o mundo andar.
Por esta razão, nunca cogitei comparecer a estes ou a qualquer show de mega-proporções estapafúrdias. Não é que não tenho idade para isso, mas nunca tive. Filas e destrato com o público na hora de comprar o caríssimo ingresso, filas e descaso na entrada e durante a realização do evento, além claro, da saída, exaustiva e vagarosa. Prefiro uma mesa de barzinho, uma geladinha no copo, bons amigos, boa MPB a embalar e inspirar…
Mas destaco o U-2 pela qualidade das letras. Acompanho há tempos e tive oportunidade de assistir a alguns especiais informais e alternativos. Nascer num país em conflito facilita para a formação de um estilo de letra e música diferenciado. Se souber encaixar bem o impacto de uma infância e adolescência conturbada, terá bons argumentos para agradar quanto ao conteúdo. Com o apoio da imprensa mundial, fica bem mais fácil, e é bom que se pense que, se é pra ufanar, que se faça com alguma qualidade. Antes isso a Milly e Vannilly…
Uma pena que ainda tenhamos que aprender algumas noções básicas de comportamento. A postura de Bonno Vox e sua turma sempre foi de conciliação geral. Pregar a paz, a ausência de preconceitos, a derrubada de diferenças e barreiras, não vem de hoje em suas letras e declarações. E o brasileiro, este ícone do comportamento, este exemplo de cidadania e hospitalidade, esse povo sem preconceitos ou diferenças, resolve vaiar a simples aparição da bandeira Argentina, acompanhada da fala do astro maior… Confundir futebol com posição política é algo fácil de acontecer com uma sociedade com poucos e fracos conceitos coletivos e, infelizmente, mostra ao ídolo que ele precisa voltar mais vezes por aqui, conversar com a gente, tomar umas no boteco, e tentar entender o que nem nós mesmos conseguimos…
Valeu Bonno, e desculpe alguma coisa…
Marcos Claudino, 02/2006.
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