São Paulo, 22 de maio de 2006.
O QUIA…
O telefone tocou.
– O Quia morreu…
– Quando foi?
– Esta noite…
– Sabem do que?
– Não falaram nada…
– Sabemos do que foi…
– Quando descobrir sobre o velório, enterro, me avise…
– Ok…
O Quia tinha a nossa idade. Momentos bons de uma juventude, festas juninas, um bando pelas ruas procurando festas. As menininhas o procuravam. Seu papo era bom, ao que parece. Foi o primeiro, ou um dos primeiros da turma a, bem, quer dizer, inaugurar a vida sexual, mas não falava pra ninguém… O Quia brigava bem. Batia em maiores que ele. Jogava bola com os maiores. Era bom de bola, o Quia… O Quia conversava com as meninas na rua e já dava uns beijos. Admirávamos o Quia, mas o achávamos inatingível… Gente boa o Quia.
O Quia chorou mil pitangas ao sargento no alistamento militar, e acabou saindo livre. Bom papo tinha o Quia…
Crescemos, afastamo-nos. A turma foi se dissipando. Estudos, namoros, responsabilidades, outros mundos, outras idéias. Casamos e mudamos. O Quia teve um filhinho, que hoje tem uns dezoito anos. Muito bonito o garoto… Mora com os avós…
Há uns três meses encontrei o Quia na rua. Ou melhor, ele encontrou-me. Diferente, magro e mal cuidado. Um forte abraço, aqueles papos de quem já não se conhece mais. Cabelos desgrenhados, dentes faltando, mas não perdeu aqueles olhos verdes… Contou-me que adquirira o “bichinho”… Mas estava lutando. Pedi que mantivesse contato, que valorizasse a qualidade e não a quantidade em sua vida. Quia disse-me que entrou pra igreja, que não usava mais nada, estava limpo e tomando o “coquetel”… Outro abraço, e fui triste pra casa… Desliguei o som e pensei no quanto invejei aquele rapaz que virava a esquina, tão maltratado…
É, o Quia não venceu, mas eu tenho certeza que lutou. Acho que ele encontrou a morte há um bom tempo. Convenceu-a a esperar, despistou-a algumas vezes, seduziu-a. Quase conseguiu, tenho certeza disso… Bom papo tinha o Quia…
Dedicado a Ezequias Correa Barbosa.
Marcos Claudino
Comente!