São Paulo, 20 de setembro de 2005.
O SONO DOS JUSTOS…
Jesivaldo era visto como um revolucionário. Filho de mãe solteira, bem educado nos conceitos de respeito, ética, honestidade. Estudado e esclarecido, desde o ginásio lutava pelos direitos dos companheiros. Sempre eleito representante da classe, em qualquer que fosse a reivindicação dos colegas.
Jê era assim. Sua maior gratificação era a conquista de alguma melhoria na qualidade do estudo, nas dependências da escola, no trabalho, enfim, sempre lutando pelos outros. Algum diretor ou professor que o via aproximar-se já sabia. Lá vinha mais algum pedido em nome dos companheiros. Não era um brigador. Desenvolveu muito bem seu poder de argumentação, e conseguia tudo na base da conversa, da justificativa, do bom senso.
Jê várias vezes foi procurado por representantes de partidos políticos da região, sempre negando convites a candidaturas patrocinadas. Não se julgava capaz de calar diante de sujeiras e conchavos que, com certeza, teria que testemunhar. Preferia o dia a dia, as conquistas pequenas e necessárias condições. De seu computador surgiu um jornal da região, trazendo os problemas da região, apontando soluções, bancado e distribuído porta a porta pelo próprio.
Um belo sábado, estranhando a falta do jornal local, alguns amigos foram em sua casa, temendo algum problema. Dito e feito. Na sala de estar da modesta casa, um corpo com a cabeça esfacelada, uma arma na mão sem vida, o computador ligado, um e-mail aberto, uma mensagem estranha:
“… Só agora posso te contar. Após tantas turbulências aqui em Brasília, precisarei afastar-me um pouco. Penso em, após minha renúncia, passarmos um tempo juntos, contar como conheci sua mãe, como você nasceu, te conhecer melhor, meu filho… Assinado, Severino…”
Marcos Claudino
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