São Paulo, 10 de novembro de 2006.
PENSAMENTOS E DIÁLOGOS
15:15 hs. Patrícia dirige. Renato, com o rosto voltado para o vidro do passageiro, rosto fechado, parece olhar as pessoas, mas não vê nada. Apenas pensa. Outra briga, outra besteira. Será que ela está arrumando pretextos para a separação? Sempre motivos fúteis, sempre razões simples demais para deixar o clima pesado. Três anos. No começo era bom. Depois ficou ótimo, depois voltou a ser bom. Depois, ou melhor, agora, ficou ruim. Ela estava diferente. Nunca deixou de amá-la, e o convívio serviu para mudar muitas rotinas, incluí-la em cada espaço vago de seu tempo. Não sabia mais se a amava, mas sabia que seria muito difícil recomeçar a rotina, re-aprender a viver sem alguém que o conhecesse tão bem. Voltar a ensinar sobre si, ajustar-se a outra vida seria péssimo, mas ao que parece, inevitável. De tudo o que achava que sabia, apenas tinha a certeza de que não suportava a solidão. E achava que havia eliminado de vez esse medo. O sexo, o jeito, os amigos, as famílias, estavam já todos moldados, encaixados… Patrícia quieta. Renato calado. Uma leve olhada disfarçada dele para ela. Estranho e irritante essa mania que ela tinha de desaparecer nas discussões. Nenhuma reação, apenas dirigia…
15:08 hs. Vinicius dirige. Yolanda, com o rosto voltado para o vidro do passageiro, parece olhar as pessoas, mas não vê nada. Apenas pensa. Aquele amor a estava sufocando. Quatro meses pegando a mesma carona. O convívio se estreitando, mas nada… E a cada descoberta, um acelerar de coração, um aperto no peito, outra prova de que ele era exatamente o “tudo” que ela procurava num cara. A cada manhã, uma esperança renovada de que hoje Vinicius falaria. Não era possível, os sinais não mentem. As revistas, as fofocas, os livros e a vida confirmavam que ele também era a fim dela, mas a confirmação não vinha, e Yolanda morria um pouco mais todas as noites. Aqueles 34 minutos dentro do carro, sentindo seu cheiro, seu hálito, suas mãos tão próximas à sua perna, algumas vezes esbarrando. Será que é sem querer? Porque ele se desculpa? Não vê que é o que ela quer? “Não foi nada, Vi…”.
– Paty, precisamos resolver esta situação de vez. Não dá mais para continuarmos assim…
– Rê, preciso te contar uma coisa muito importante. O motivo que está me deixando tão irritada e emotiva…
– Vi, precisamos conversar… Tenho uma coisa pra te contar.
– Eu também, Yô, preciso te contar uma coisa muito importante…
– Preciso que você tenha muita paciência comigo, Rê. Meus hormônios estão saltitando e me deixando louca…
– Nossa, Paty, algum problema de saúde? Porque não me contou nada?
– É que eu precisava confirmar antes. Mas agora já sei, e posso te contar…
– Fala logo, amor, não me deixa nessa ansiedade…
– Fala você primeiro…
– Não Yô, pode falar…
– Não, eu insisto, você começou a conversa primeiro… (O coração aos pulos).
– Ta legal. Eu te considero muito, você sabe o quanto nos damos bem, certo?
– Certo, certo, continue. (Meu Deus, o coração vai pular pela boca).
– É que eu estou noivo. Nunca te falei isso, porque não tinha certeza se era mesmo que eu queria. Neste final de semana decidimos nos casar, e eu gostaria muito que você fosse nossa madrinha…
– Sabe o que é Rê, é que eu finalmente consegui engravidar. Você é pai há umas cinco semanas, e terá que ter muita paciência comigo. Tudo bem, amor?
16:04 hs. Um cruzamento. Um semáforo quebrado. Um barulho surdo de lata se chocando, seguido pelo som de vidros se partindo. Dois corpos no chão. Outros dois no interior dos restos dos veículos destruídos.
– Nossa, que batida horrível ali na frente…
– Fala alguma coisa, Rê…
– Desculpe minha impaciência com você. Quero ser o melhor pai que seu filho possa ter…
– Te amo, amor…
– Também te amo…
– Nossa, que acidente terrível ali na frente…
– Fala alguma coisa Yolanda…
– Fico muito feliz com seu casamento, Vi, e aceito sim ser sua madrinha… (O coração voltou pra dentro, mais pesado, e deve ter caído bem mais abaixo do peito).
– Ufa, que alívio… Pensei que não iria aceitar. Depois eu te passo o convite e os detalhes. Obrigado…
– Que isso, Vinicius, amigos são pra essas coisas… (Volta a olhar as pessoas na rua, mas desta vez é para disfarçar a lágrima).
Fim… (acho que vou escrever novelas, Mexicanas ainda…)
Marcos Claudino
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