São Paulo, 02 de junho de 2007.
Deve ser a ducentésima vigésima quinta em vez que escrevo sobre isso, perdoem.
Recebo um e-mail de um amigo com o título “Um Grito de Socorro!!!”. Abro. Uma apresentação PowerPoint da pequena Maria Angélica. Ela tem seis meses de idade e aparece numa foto no colo de sua mãe. Tem hidrocefalia. Para quem não viu, não precisa. É realmente impressionante. Não dá pra fechar e continuar trabalhando. Na apresentação informam um número de conta corrente (Banco do Brasil) e um site: www.mariaangelica.cjb.net. Entrei. Algumas fotos a mais, o mesmo texto e um contador com mais de duas mil visitas, desde 19/03/2005. Estranho. Há mais de dois anos o site existe. Ou a garota não havia nascido ou está com mais de dois anos e meio de vida, se conseguiu sobreviver. O número de telefone informado no site é de Fortaleza, e não estou em condições financeiras de ligar. Mando um e-mail ao amigo, perguntando se ele sabe de alguém que entrou em contato com a família, ou sabe do paradeiro da menina, e recebo a resposta: “Este e-mail chegou hoje para mim, não tenho mais informações sobre o caso”. Pronto. Tive ímpetos de mandar umas boas duras, mas desisti, desanimado que fiquei. Não é novidade nenhuma este tipo de e-mail. Não é novidade nenhuma este tipo de pedido de ajuda. Não é novidade nenhuma a enganação através de spams. E é uma pena, pois se esta menina ainda existir, ficou sem meus míseros dez reais de ajuda, pois realmente fiquei impressionado. E é uma pena que meu amigo age como a maioria, e tira o restante da confiança que ainda temos nas pessoas. Verifiquemos, gente. Se algum pedido nos importa realmente, quem foi que disse que enviar à sua lista vai ajudar? E se for um golpe? Você não se sentiria mal ao saber que colaborou com ele? Já diziam nossas avós, de boa intenção o inferno está cheio… Pôxa gente, importem-se de verdade. Pesquisem. O velho jargão “não sei se é verdade mas repasso” é uma puta sacanagem, dá pra entender? Estamos em 2007, evolução cultural, espiritual, econômica, virtual, e, sem dúvidas, evolução da sacanagem. Ainda mais num país desses… Tanto a dizer e eu não quero dizer mais nada. Não quero passar como o São Tomé da internet, mas é provado que o meio virtual prejudica e muito. Todos conhecemos alguém ou já fomos vítimas de saques ilegais em nossas contas, de vírus em nossos e-mails, navegadores e celulares. Se nada fizermos será ruim. Se colaborarmos, muito pior. Um pensamento a mais. Uma desconfiança a mais, antes do impulso de retransmitir. Uma mínima preocupação com os destinatários de sua iluminada boa vontade em ajudar a quem não conhece, ajudando assim a quem você realmente conhece. Pronto. Acabei. Desculpem, mas inocência demais também faz mal. Abraços.
Marcos Claudino, 38 anos, pescador de ilusões reais…
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