São Paulo, 16 de maio de 2006.
UM PASSINHO Á FRENTE, POR FAVOR…
O dia em que a terra parou. O empregado saiu pro seu trabalho, pensava que o patrão estava lá. O patrão saiu pra abrir a empresa, mas não sabia que o empregado não estaria lá. Os ônibus é que não estavam lá. Ou melhor, estavam lá, queimados ou ainda pegando fogo.
O policial saiu pra trabalhar na sexta-feira, no sábado e no domingo, mas não voltou pra casa. O ladrão saiu para roubar, pois espalharam notícias de que estavam explodindo tudo, pois não havia polícia, e, segundo algumas línguas, promoveram alguns arrastões, ou não, não importa.
O dia em que a terra parou. Levei noventa minutos para percorrer de carro uma distância de cinco kilômetros. Os motoristas não mais respeitavam faróis. Não havia guardas, agentes de trânsito, viaturas, controle qualquer. Calçadas invadidas por motos e carros também. Pessoas andavam no meio das ruas, paradas, congestionadas.
O dia em que a terra parou. As feições estavam fechadas. Ninguém era confiável. Os bancos fecharam, tudo fechou, os chefes foram embora sem falar nada. As linhas de celulares congestionaram, e ficamos incomunicáveis. Se o mundo acabar, poderá ser desta forma, e os paulistanos estão treinados.
O dia em que a terra parou. E-mails informavam sobre ataques que o amigo do parente do vizinho da empregada, que era integrante do PCC, avisava para não sair de casa. Decretado toque de recolher pelo medo. Ninguém assinou, apenas obedeceu. Faculdades não deram aulas, fecharam, casaram e mudaram.
No dia seguinte ao dia em que a terra parou, chegaram e-mails pedindo pena de morte, apresentações bem elaboradas cobrando das entidades de defesa dos direitos humanos uma posição quanto às vidas de policiais perdidas no embate. E os debates continuarão.
As autoridades usarão o lado que bem convém para falar sobre o dia em que a terra parou. Culpa desse ou daquele, menos deles mesmos. O Federal oferece ao Estadual o exército. Não, obrigado, está tudo sobre controle (bum!!). O Estadual pede do Federal a decretação de Estado de Apreensão. Não, obrigado, não é pra tanto… (bum!!)
E os pacatos cidadãos lembrarão do dia em que a terra parou por mais algumas semanas, pois estarão sendo revistados nas ruas, nos carros, em casa, no trabalho, pelos policiais vítimas do dia em que a terra parou.
Quando tivermos o impulso de pensar sobre este dia, e nos entregarmos aos apelos da massa desinformada, aos clamores e sandices típicas, lembremo-nos que ainda somos nós que escolhemos nossos representantes em todas as autarquias existentes. O problema da segurança é mais um, e conseqüência de descasos praticados há bastante tempo. Porque ouvir de companheiros que o Coronel Ubiratan é que estava certo machuca os ouvidos, e é mais uma típica atitude de generalização que pagaremos caro, bem caro, em outros dias em que a terra irá parar… Talvez por tempo indeterminado…
“… a minha alma está armada, e apontada para a cara do sossego… pois paz sem voz não é paz, é medo…”(O Rappa).
Marcos Claudino
Comente!