Simplicíssimo

Vende-se

São Paulo, 18 de dezembro de 2006.

VENDE-SE

Gabriel estava agitado. Após várias tentativas, pedidos e brigas com o pai, finalmente havia percebido uma pequena ascendência aos seus pedidos de liquidar tudo.

– Vende, pai, aproveite que há um interessado.

– Mas filho, deu tanto trabalho fazer, é tão bonito…

– Bonito? Como bonito? Era bonito antes de coloca-los lá… Depois, a cada dia, o que eles têm feito é destruir…

– Não sei, não sei… Não confio no comprador…

– Mas pai, ele tem interesse. O lugar é pequeno e quase improdutivo. Mesmo que esse empreendedor o restabeleça, não vai fazer diferença.

– Mas esse comprador não tem boas referências, filho. Dizem que ele só cria destruição. Acho até que já vem trabalhando no mercado negro…

– Olha, pai, pense no lado bom. Começaremos outro, bem melhor. Habitaremos com outra espécie, uma que proteja, que ame, que respeite, que valorize. Esta, você bem sabe que não tem mais jeito…

– Vou pensar…

Marcada a reunião, o interessado, um sujeito realmente elegante. Fraque, bengala, cartola, um perfeito lorde inglês. Gabriel recebeu o ilustre, trouxe boa bebida, charutos, bombons, chamegos.

– Onde está seu pai?

– Não se preocupe, senhor, ele já vem. Está terminando de ler os e-mails…

– E então, acha que ele vende?

– Olha, fiquei muito animado na última conversa. Por isso o chamei…

Alguns minutos depois, entra na sala o pai. O notebook na mão. Olhou com certo desprezo para ambos.

– Sinto muito, senhores, mas decidi não vender…

– Mas pai, já conversamos sobre isso…

– Mas, senhor, pense melhor, ninguém está interessado neste lugar, a tendência é a autodestruição, e eu tenho recursos para investir…

– Lamento, cavalheiros, mas acabo de ver uma coisa que me fez voltar a ter esperanças. Acompanhem-me.

Abriu o notebook, clicou no link: http://www.youtube.com/watch?v=vr3x_RRJdd4.

Ambos saíram da sala. Um, cabisbaixo, outro pensativo.

– Palhaçada, quem foi que deixou aquele idiota solto nas ruas?

– É, acho que estava enganado… O pai sempre me convence… Pode ter mesmo valido à pena tanto trabalho…

O pai, parado à frente do equipamento, sorria orgulhoso…

– Eles são apenas bebês, aprendendo a engatinhar… Mas sempre me surpreendem… Além do mais, tem o Inter!!

Fim… E um feliz Natal a todos!!

Marcos Claudino

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