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Os judeus e o nome do Brasil – parte 1

A CRUZ SEMPRE MARCA O LOCAL
Era mês de março quando a frota cabralina deixou Portugal com seus 1500 homens e treze caravelas em direção às Índias. O capitão da armada, Pedro Álvares Cabral, fora instruído pelo próprio rei D. Manuel a negociar com o rei de Calicute o estabelecimento de uma feitoria portuguesa naquelas terras. Seja de forma amigável ou através da guerra. Eis a razão de a frota ir carregada com tanta riqueza e tantos homens.
Pouco mais de um mês após partirem de Portugal, Cabral avista um morro “mui alto e redondo” ao qual batizou de Monte Pascoal, em razão de estarem justamente no dia da páscoa. Às terras que rodeavam o monte, ordenou que fossem chamadas “Terras de Vera Cruz”, como relata o escrivão Pero Vaz de Caminha em sua famosa carta ao rei de Portugal. O nome Santa Cruz só viria posteriormente, em 1501, após o retorno da frota cabralina a Portugal. Em uma carta escrita por D. Manuel aos seus sogros, os reis católicos da Espanha, o rei de Portugal contava a boa nova das terras recém-achadas referindo-se a elas com piíssimo nome de “Terras de Santa Cruz”.
Apesar do pouco destaque historiográfico a este tema, é curioso notar como esta viagem de Cabral é marcada pelo símbolo da cruz de diferentes maneiras. Uma das mais notórias é que as próprias embarcações portuguesas vinham marcadas com a bandeira da Ordem de Cristo, cujo símbolo era a Cruz de Malta, em seus mastros.
A Ordem de Cristo foi uma ordem religiosa criada em Portugal pelo rei D. Dinis no ano de 1319. Ela acabou por substituir a famosa Ordem dos Cavaleiros Templários, extinta cinco anos antes pelo Papa Clemente V, que ordenou que seu grão-mestre, Jacques de Molay, fosse queimado vivo em uma praça pública próxima a Paris. Desta forma, ao substituir a Ordem dos Cavaleiros Templários, a Ordem de Cristo acabou herdando não apenas o poder político destes últimos, mas também grande parte das propriedades e riquezas destes. Durante a expansão marítima portuguesa, no século XVI, o grão-mestre da Ordem de Cristo era ninguém menos que o próprio rei de Portugal. Sendo todas as suas conquistas marcadas com a cruz da Ordem de Cristo.
Além desse importante caráter político e econômico, o achamento do que viria a ser o Brasil também foi marcado pela cruz de uma maneira muito especial. Diria até, celestial. Sabemos, pelos filmes e livros de pirata, que nos mapas de tesouro a cruz sempre marca o local onde este está enterrado. No caso do achamento do Brasil, a cruz não marcava onde ele estava, mas serviu de guia para levar os portugueses até estas terras. Segundo os relatos de Mestre João, cirurgião e físico do rei que viajava na frota de Cabral, assim que os portugueses cruzaram a linha do Equador, tiveram que orientar a navegação através de outra constelação, uma constelação que tinha forma de cruz e cujas estrelas eram tão grandes como as da constelação do Carro. Talvez Mestre João tenha sido o primeiro homem a descrever a constelação do Cruzeiro do Sul, que seria posteriormente estampada em nossa bandeira. Tal fato, apesar de parecer banal, demonstra como a cruz marcou definitivamente o achamento dessas terras. Segundo Paulo Roberto Pereira em seu Três únicos testemunhos do Descobrimento do Brasil, o olhar terreno de Caminha sobre a Vera Cruz nomeada por Cabral se complementa com o perscrutar do céu austral do Mestre João, que também denominou este céu de Cruz, passando uma visão harmoniosa e a primeira versão escrita do céu e da terra do que viria a ser o Brasil. O rei D. Manuel complementaria a tríplice trave da cruz, um ano depois, ao batizar as “novas terras” de Santa Cruz[1]. Como se dizia dos velhos mapas de pirata: a cruz sempre marca o local.


[1] PEREIRA, Paulo Roberto. Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. São Paulo: Lacerda, 1999, p.70.

Roger Beier

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