Lançado em 2005, pelo cineasta João Batista de Andrade, o filme é um documentário cujo tema é a morte violenta do jornalista Vladimir Herzog nos porões do antigo DOI-CODI, no dia 25 de outubro de 1975. Segundo João Batista, a produção deste documentário era uma dívida moral que ele tinha consigo mesmo e com a memória do amigo, com quem trabalhava na TV Cultura quando este foi preso, torturado e morto pelo 2º Exército de São Paulo.
O filme é baseado em depoimentos de amigos e colegas que viveram com o Vlado aqueles anos de chumbo e que, não por coincidência, também acabaram presos e torturados pela polícia repressiva do Estado. Com participações especialíssimas de Clarice Herzog (viúva de Vlado), Paulo Markun, Georges Bourdoukan, Alberto Dines, João Bosco, Dom Paulo Evaristo Arns, Henri Sobel, José Mindlin e Fenando Morais, entre outros, o filme ganha muito em veracidade, pois todos os depoimentos contidos no documentário são de pessoas que sofreram prisões arbitrárias e terríveis torturas durante a prisão.
Os depoimentos foram colhidos de forma simples e direta, com os interlocutores sentados em uma cadeirinha de diretor, e o diretor diante deles com uma câmera de mão fazendo as perguntas que colheriam o material para registrar as barbáries cometidas neste período negro de nossa história. A edição do filme, também simples, mas muito bem feita, coordena os momentos narrados nos diferentes depoimentos para passar uma noção correta de temporalidade dos acontecimentos debaixo da temática abordada.
A importância deste documentário transcende o mero coleguismo, como já ouvi alguns dizerem, pois relembra os brasileiros do quão terrível foi o tempo da ditadura militar em nosso país. Parece que a geração pós-64 tende a acreditar que o regime ditatorial não pode ser tão ruim, politica e socialmente, quanto aos atuais governos. No próprio documentário é possível verificar, logo no início do filme, quando João Batista passa a entrevistar os transeuntes da Praça da Sé, que há pessoas que sequer sabem quem foi Vladimir Herzog, e outras que acreditam ser melhor voltarmos a ter uma ditadura no país em razão do desmando político e social que vivemos nos tempos atuais. É justamente pra confrontar esta idéia que está a importância deste documentário: relembrar as pessoas do quão terrível foi o período ditatorial no Brasil. De como era tenebroso ser preso por simplesmente exercer sua profissão, ou então, ter e expressar uma opinão publicamente.
Àqueles que, apesar de terem vivido a infância nos últimos anos após a ditadura militar, ou terem nascido após a mesma, mas que se interessam em saber mais sobre este período negro de nossa história, este filme é uma boa introdução, dando uma noção exata de como o Estado trata a imprensa em um período ditatorial.
Àqueles que, mesmo tendo vivido os duros anos da repressão, se esqueceram, ou mesmo, não sofreram alguma perseguição e, portanto, crêem que aqueles anos eram melhores, vale à pena ver o filme para travar contato com pessoas que sofreram na pele a realidade da perseguição e da tortura. Que tais relatos não foram invenções de pessoas comprometidas ideologicamente com o Partido Comunista para desestabilizar o governo. São pessoas que realmente existiram, sofreram e até morrerarm nas mãos de um Estado que devia proteger e sequer deveria povoar a cabeça de qualquer cidadão do mundo, quanto mais, voltar ao poder.
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