Simplicíssimo

Aos vinte e três

  Aos vinte e três anos de idade Arthur Rimbaud (1854-1891), gênio da poesia francesa, já havia deixado de escrever e vivia fugindo da polícia, pulando de país em país, de emprego em emprego.   

Charles Baudelaire (1821-1867), outro gênio da poesia nascido na França, já havia escrito alguns dos poemas que seriam publicados anos mais tarde em “As flores do mal”, e trocava umas idéias com ninguém menos que Balzac.  

Álvares de Azevedo (1831-1852), um dos nossos maiores poetas românticos, talvez o maior, nem chegou a completar seus vinte e três. Morreu antes de fazer 21, mas sua obra (“Lira dos vinte anos”, “Noite na taverna” e “Macário”) já fora toda escrita.  

“A marca”, novela que foi aclamadíssima na época, muito antes dos vinte e três. Nessa idade, ele tomava chopes com Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes, entre outros.  

Aos vinte e três, John Fante (1909-1983) tinha um contrato editorial e começava a escrever “O caminho de Los Angeles”, romance que só seria publicado depois de sua morte, pois foi considerado impublicável nos anos trinta, e era dado como perdido, até a esposa dele encontrar o manuscrito no meio das tralhas de Fante.  

Um exemplo mais atual: Daniel Galera (1979-…), autor do romance “Mãos de cavalo”, tocava uma editora independente (a Livros do Mal) com mais dois amigos (Daniel Pellizzari e Guilherme Pilla) e já havia publicado dois livros. Um de contos e um romance.  

O venezuelano Fernando Baez (1970-…) estava a um ano de iniciar uma pesquisa de doze anos, que resultou no seu recém publicado “História universal da destruição de livros”.  

Eu poderia passar dias e dias pesquisando e citando mais exemplos de gente que, aos vinte e três, já haviam feito muita coisa (importante). Mas não seria uma boa idéia. Minha auto-estima não suportaria.  

O caso é que, quando você estiver lendo esta croniqueta, eu já terei completado vinte e três anos de idade. E tudo o que tenho são apenas alguns textos espalhados em alguns sites e uma pilha de livros para ler e resenhar, além de um curso de graduação que, sinceramente, só não jogo pro alto por falta de coisa melhor. E, de certa forma, foi ela que me deu o pouco que tenho.  

Eu não costumo ser pessimista. Mas, com licença: hoje, o dia é meu.

(05/07/2006)

Rafael Rodrigues

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