Não deveriam me chamar de escritor. Eu sou uma farsa.
Nasci e fui criado numa bela cidade, com tudo do bom e do melhor à minha disposição. Fui educado nos melhores colégios e sempre tive acesso ao melhor da cultura. Nacional e estrangeira.
Nunca precisei suar para ganhar meu sustento. Graças a Deus meus pais me deixaram uma boa herança, o que me permite viver até hoje com certos luxos.
O maior sofrimento que tive na vida foi quando bati um carro dois dias depois de comprá-lo. E ainda não o havia colocado no seguro. Felizmente consegui um desconto considerável na troca junto à concessionária. Era onde meu pai costumava comprar seus automóveis.
Dizem que para ser um bom escritor, é fundamental ter uma vida difícil, sofrida, com traumas, etc. Não tive nada disso, como afirmei acima. Minha vida foi sempre muito fácil.
É por isso, por saberem que sou um filhinho de papai, que tanto me perguntam como consigo inventar minhas histórias. Sempre menti dizendo que elas surgem em minha mente. Acordado ou dormindo.
Talvez minhas desilusões amorosas tenham me ajudado em algo na escrita. Talvez. Realmente escrevi alguns contos ou trechos de meus romances me baseando nas vagabundas que passaram pela minha vida e não fizeram outra coisa a não ser me encher o saco. Mas isso não influenciou nem vinte por cento de minha literatura.
A verdade é: passo horas e horas andando por subúrbios, sentado em mesas de bar, entrando em pequenos mercados. Nesses locais, observo pessoas, ouço suas conversas e anoto tudo num pequeno bloco de notas que carrego comigo.
Sou um ladrão de histórias. Faço ficção a partir de fatos reais. Às vezes nem isso. Conto a história como ouvi mesmo. Por isso são tão originais. Não há nada mais singular que a vida real. Nada.
Também adapto histórias de canções ou filmes. Minha bagagem cultural, como disse, me ajuda bastante.
Às vezes “pego” algo de algum livro também. Mas para fazer isso é preciso muito cuidado. Por isso conheço tantas bandas que ninguém ouve, tantos filmes que ninguém viu e tantos autores de raros leitores.
Aprendi que, se algo for copiado, deve ser copiado dos melhores. E os melhores, meus amigos, estão longe da mídia, esquecidos. Muitos nem foram esquecidos. Antes fossem. Muitos sequer foram citados pelos burros que se dizem formadores de opinião. Morreram na miséria, com apenas um ou dois livros publicados. Mal publicados, com poucos exemplares. Alguns escreveram obras primas até hoje não descobertas pelos incompetentes da mídia.
Eu não corro esse risco. Já fui descoberto, vocês encheram meus bolsos de dinheiro. Sim, mais ainda. Sim, vocês, meus leitores. Agradeço-lhes imensamente por isso. Não tanto pelo dinheiro, mas pelo prestígio. Essas linhas são meu jeito de dizer “muito obrigado”.
Não direi até a próxima.
Ela não vai existir.
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