Marquei com Carlos para sairmos cedo de casa. Na verdade, ele marcou. Dependesse de mim, acordaria lá pelas dez da matina. Sete horas da manhã, eu estando de férias, é madrugada para mim. Tínhamos de ir ao centro da cidade resolver alguns problemas. Quanto mais cedo chegássemos, mais cedo estaríamos livres. Por isso a pressa. Ele tinha de trabalhar depois. Eu, dormir.
Acontece que acabamos nos atrasando. Aliás, ele se atrasou. Deveríamos sair de casa por volta de sete e meia, acabamos saindo às oito e alguns quebrados. Fomos para o ponto esperar um ônibus. No caminho, vimos que um dos que poderíamos pegar acabara de passar. Ou seja: demoraria um pouco para passar o próximo.
Então começamos a pensar em alternativas. Ir andando até o próximo ponto. Pegar algum outro tipo de transporte – coletivo ou não. Ir andando até o centro. Foram algumas das opções sugeridas.
Quando estávamos prestes a tomar um rumo, passa por nós um carro, buzina e acena. Olhei para Carlos, ele estava indo em direção ao carro. E eu fui atrás.
Já estava para abrir a porta traseira do veículo quando percebi que o senhor ao volante havia buzinado para uma senhora no ponto, não para nós.
Foi realmente embaraçoso. Engraçado, até. Acenamos para a verdadeira dona da carona, mas ela recusou, sabe-se lá porquê. Desfeito o engano, estávamos voltando para o ponto, quando ele falou:
– Mas vamos, então.
E fomos.
Durante o percurso, o silêncio imperou dentro do veículo. Eu no banco traseiro, meu amigo no assento ao lado do motorista.
Quando chegamos no nosso destino, Carlos virou-se para aquele senhor e disse:
– Você sabe de quem eu sou filho, não?
– Ah, rapaz, você é filho de …
– Não, sou filho de …
Eu já desconfiava que ele o conhecia de algum lugar. Afinal, não iria entrar no carro de um desconhecido.
Trocaram alguns cumprimentos e lembranças e saímos. Depois ficamos a pensar no que ele ficou pensando enquanto dirigia. Ele ainda não “conhecia” quem estava dentro do seu carro.
Rimos bastante.
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