Entre resumos informativos a entregar e provas de literatura a fazer, foi que li “O carrinho branco” (Rocco, 190 págs.), mais novo romance do escritor inglês Dan Rhodes. Lançado no Brasil em fevereiro deste ano e assinado com o pseudônimo de Danuta de Rhodes (após o lançamento de “Timoleon Vieta volta para casa”, também publicado no Brasil pela Rocco, Dan Rhodes afirmou que aquele seria seu último livro; mas era apenas uma brincadeira do autor), “O carrinho branco” é um livro divertidíssimo. A história acontece no ano de 1997, em Paris, e tem como catalisador o acidente que causou a morte da Princesa Diana. Uma jovem de nome Veronique sai da casa de seu namorado, Jean-Pierre, após terminar o namoro, bêbada e com um baseado na mão. Ela bem que tentou esperar algum tempo dentro do carro, para o efeito do álcool diminuir um pouco. Mas um homem estranho a observando faz com que ela desista da idéia e saia dirigindo o seu Fiat Uno branco pelas ruas parisienses. Veronique está consciente de sua situação e por isso dirige bem devagar, com o máximo de atenção que alguém alcoolizado e fumando um baseado pode dirigir. Tudo vai bem até ela entrar num túnel. Veronique chega em casa sem saber como. Ao acordar no dia seguinte, com uma dor de cabeça enorme, recebe a ligação de sua amiga Estelle. Elas conversam um pouco e marcam para sair. Veronique segue sua rotina pós-bebedeira, como se nada tivesse acontecido. Procurando algo na TV, ela vê uma reportagem sobre o acidente envolvendo a Princesa Diana. E então ela lembra: “Ah m… – disse ela. – Matei a princesa.” A jovem francesa lembra que passara por aquele túnel, e que algo acontecera por ali. Mas não passou pela sua cabeça que havia provocado um acidente tão grave. Depois de ver a notícia e ter certeza de que provocou a morte da Princesa, a bela e jovem francesa inicia um plano para se livrar do carro. Sua amiga Estelle tenta acalmá-la, dizendo que ela não podia ter certeza de que provocara a batida. Se foi Veronique culpada ou não, só lendo o livro pra saber. Veronique não tem dúvidas de que tem culpa no cartório, e as duas garotas começam então a desmontar o carrinho branco. E é aí que a verdadeira história do livro aparece. Veronique é obrigada a fazer coisas que jamais imaginou. Ao mesmo tempo em que faz de tudo para se livrar do carro branco, ela faz um balanço de sua vida até ali – apesar de ter apenas 22 anos – e acaba reavaliando algumas decisões e tomando outras. É também uma virada para Jean-Pierre, um cara que tem 34 anos e passa seus dias bebendo, fumando maconha e trabalhando três dias por semana em uma revista que ninguém lê. Quando fica sabendo do problema de Veronique, ele toma a decisão de ajudá-la e acaba também dando um novo rumo à sua vida. O mesmo acontece com Estelle, a amiga tresloucada de Veronique, que já aprontou de tudo, e finalmente parece tomar algum juízo. A narrativa ágil de Dan Rhodes – ou Danuta de Rhodes, como preferir –, e o humor de primeira qualidade, dá ao romance a leveza que têm os bons livros. Comparo o inglês a Jô Soares. “O carrinho branco” não se vale de detalhes ou pessoas que realmente existiram, como faz Jô, mas a diversão proporcionada por ambos é a mesma.
Um romântico poderia dizer que, no fim das contas, “O carrinho branco” conta três histórias de redenção.
Eu não discordaria.
* Resenha publicada originalmente no blog Paralelos (http://oglobo.globo.com/online/blogs/paralelos)
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