Simplicíssimo

Resenha – Sonhos de Bunker Hill

Cego e com as duas pernas amputadas. Esse era o estado do escritor norte-americano John Fante quando terminou de ditar à sua esposa o romance “Sonhos de Bunker Hill” em 1982.

Mais conhecido por “Pergunte ao pó”, considerado por muitos como sua obra-prima, John Fante nasceu em 1909 no Colorado e faleceu em 1983, aos 74 anos.

Sobre ele, Bukowski, o velho safado, escreveu: “Finalmente aqui está um homem que não tem medo da emoção”.
“Sonhos de Bunker Hill” tem o mesmo personagem de “Pergunte ao pó”, “Espere a primavera, Bandini” e “O caminho de Los Angeles”, outros romances de John Fante. Ele é Arturo Bandini, que vem a ser um alter ego do autor.
No início de “Sonhos…”, Bandini é um “ajudante de garçom, sem igual”, palavras dele, pois o romance é narrado em primeira pessoa. “Eu tinha algo mais a oferecer a meus fregueses além da habilidade de garçom, porque eu também era escritor”. Bandini achava-se um fenômeno: “Um dia este fenômeno tornou-se conhecido, depois que um fotógrafo bêbado do Los Angeles Times sentou no bar e bateu várias fotos minhas… No dia seguinte havia uma reportagem de destaque anexada à fotografia do Times”.
A partir dessa reportagem, Bandini começa a ter algum êxito na carreira de escritor. Consegue vender algumas histórias e então recebe seu primeiro “retorno financeiro literário”, digamos assim. Após algumas idas e vindas, arruma um emprego como roteirista de cinema. É pago (e muito bem pago) para fazer nada. Fica em sua sala esperando seu chefe solicitar seus serviços. No início ele reclama, mas depois acostuma-se, apesar de não estar satisfeito com aquela situação. Bandini quer mostrar seu trabalho. Quer mostrar a todos do que ele é capaz, se considera um fenômeno, não esqueçam.
Durante o livro, o jovem aspirante a escritor se envolve com figuras no mínimo inusitadas. E tem atitudes no mínimo estranhas. Bandini é um cara estranho. E tem uma capacidade incrível de se ajoelhar aos pés de diferentes mulheres em curtos espaços de tempo e dizer “eu te amo”.
Uma delas é Helen Brownell, talvez a única pela qual ele tenha sentido algo verdadeiro. Mas Bandini é Bandini, e ele a perde, como todas as outras.
No meio de tantas aventuras, ele acaba esquecendo do principal: escrever.
Qualquer aspirante a escritor gostaria de ser o Bandini de “Sonhos de Bunker Hill”. Mas não poderia cometer os mesmos erros que esse personagem curto e grosso, mas ao mesmo tempo sensível e bem humorado. Algumas atitudes do protagonista são tão absurdas que acabam se tornando engraçadas. Isso faz com que a leitura da obra seja muito agradável e rápida. Você acaba querendo saber qual o próximo passo de Bandini, qual sua próxima loucura.
Pode não ser uma obra-prima da literatura, mas é uma leitura muito divertida e de grande valor literário. Não se pode negar isso.

“Não era meu, mas, com que diabos, um homem tem que começar por algum lugar”. (Arturo Bandini)

* Resenha publicada no blog do Paralelos via Globo On-line.

Rafael Rodrigues

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