Simplicíssimo

Resenha – Um longo lamento

  Você está lendo o que talvez seja a primeira resenha do livro “Um longo lamento” (Rocco, 192 págs.) publicada em algum site brasileiro.
 
  Não escrevo isto para impressionar o leitor ou para valorizar esta resenha. Foi apenas o que constatei com uma pesquisa num sistema de buscas. Ok, ok, o Google.
E não estou “ganhando um por fora”. Bem que gostaria.
 
  Mas enfim. “Um longo lamento” é o primeiro romance da escritora americana Amanda Stern, e foi publicado aqui no Brasil através do selo Safra XXI, da editora Rocco, que se destina a lançar autores jovens e inéditos, nacionais ou estrangeiros.
 
  Talvez esse tenha sido o motivo de não terem dado muita atenção ao livro. O fato de ser uma escritora inédita, sendo lançada por um novo selo – o Safra XXI não tem nem dois anos de existência –, pode ser que isso não tenha seduzido nem a crítica nem o público. Tentarei corrigir essa injustiça fazendo minha parte: divulgando este belíssimo livro.
 
  “Um longo lamento” conta a história de uma garota e um rapaz chamado apenas de “o Alcoólico”, que se conhecem na faculdade, começam a namorar e viajam pelos Estados Unidos rumo a Nova Iorque.
 
  Ela é uma estudante de cinema que se limitava a viver do Alcoólico – que é mesmo um alcoólatra, além de ser viciado em outras drogas. A protagonista-sem-nome se torna viciada por osmose. Mas o que mais lhe prejudica é o vício que tem pelo Alcoólico. 
 
  O plano era simples: namorarem, casarem e serem felizes para sempre. O Alcoólico é um cantor e guitarrista de rock que é quase uma lenda na faculdade. Seus shows têm uma espécie de mística, sempre acontece algo de extraordinário em suas apresentações. Mesmo que isso signifique contar a “sua obscura história pessoal ao som de ‘Sympathy for the Devil’”.
 
  Quem narra o romance é a jovem e, durante a viagem, aos poucos ela percebe que nem tudo é o que parece. “A pele dele parece cerâmica, lisa, como vidro moldado por sopro… No lugar dos olhos, tem duas luas da cor do céu… Meu estômago embrulha, meu peito se comprime. Estou completamente obcecada. Uma paixão arrebatadora se forma e se instala. Ele me deixa atordoada. Esse é o Alcoólico.”, este é o relato de quando conheceu o Alcoólico. Anos depois, ela diria: “Pela primeira vez eu falo: chamo-o de bêbado. E pela primeira vez, ele não discorda… Digo a ele que estou cansada, sugada. Que não consigo mais fingir. Nada restou para mim… A bebida me exauriu, esvaziou-me de mim mesma.”
 
  O livro faz referências a músicas e bandas de rock, e a narrativa tem mesmo um ritmo, uma melodia melancólica de uma balada roqueira. Há também no romance momentos em que parágrafos inteiros poderiam ser considerados como poemas em prosa. São os momentos mais tocantes do livro.
 
  “Um longo lamento” é a história de dois jovens que, perdidos, se encontram. E juntos, se perdem ainda mais. Talvez seja o retrato de grande parcela da juventude dos nossos dias. É também uma história de amor. Bela e triste, como poucas já narradas em páginas brancas de um livro.
 
P.S.: Ao terminar a leitura de "Um longo lamento" fiquei intrigado com o fato de a narrativa ser tão "cheia de sentimento" – não encontrei expressão melhor – que resolvi enviar um email à escritora. Na terceira mensagem, perguntei-lhe se havia algo de real no romance, e, se houvesse, o quê seria. Amanda me respondeu dizendo que seu livro é uma "autobiografia ficcionada". Ela realmente se envolveu com um alcoólico, frequentou um psicólogo (fato que não citei na resenha, para não contar demais sobre o romance), entre outras coisas. E mais não digo. Encerro este adendo com uma frase da escritora Amanda Stern sobre o alcoólico: "And I did love him."

  * Resenha publicada originalmente no blog Paralelos (http://oglobo.globo.com/online/blogs/paralelos)

Rafael Rodrigues

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