Simplicíssimo

Resolvi parar de escrever (Parte 1)

  Sim, é isso mesmo que você leu no título. Não vou mais escrever, parei. Este é o meu último texto, minhas últimas palavras escritas para algum público. E estou falando sério.
 
  Isso não deve fazer muita diferença para você. Você já ouviu falar de mim? Não. Então.
 

  Não tenho livros publicados; sequer tenho um conto ou um poema em alguma dessas coletâneas que andam lançando quase todo mês. Sou um escritor de blog, só isso. Escrevo minhas histórias e posto no meu blog. Algumas pessoas lêem, comentam – a maioria não, é claro – e é só. Mas nos últimos tempos algo aconteceu, e minha relação com o blog e a escrita mudou drasticamente.

 
  Começou há uns nove meses, mais ou menos, quando criei meu blog. Se você tem um, sabe que às vezes surgem amizades a partir de comentários de leitores. Além disso, alguns amigos próximos podem visitar seu endereço e ler seus textos. É assim que a coisa funciona. Até aí nada de mais. Se você for um escritor publicado, reconhecido pela crítica, tudo bem. O que você escreve é ficção, não passa disso.
 
  Mas tente ser um escritor de blog. TENTE! Eu não agüento mais as pessoas perguntarem: “Nossa, que história aquela, ein? Quando foi aquilo?” COMO SE TIVESSE ACONTECIDO COMIGO!!! Ora, quer dizer que eu não posso ter criado o maldito texto? Tudo tem que ter acontecido comigo?
 
  No começo o pessoal não perguntava tanto. Até porque eu andava postando uns contos bem bobinhos, narrados em terceira pessoa. Mas aí comecei a publicar alguns contos mais sérios, e bem melhores, modéstia à parte. Alguns deles narrados em primeira pessoa, o que dá um tom mais pessoal à história, óbvio. Pois.
 
  Foi aí que começou a palhaçada das perguntas. E às vezes nem perguntavam assim, na bucha. Vinham cheios de salamaleques, como se eu fosse um coitadinho! Pô, fala sério! Foi uma amiga virtual minha. Ela leu um conto de um rapaz que era traído pela namorada – a história em si é bobinha, pra usar uma palavra já dita, mas como ele foi muito bem escrito, modéstia à parte (de novo), ficou a impressão de que aquilo tinha sido comigo. Ela nem bem acabou de ler o texto, e me mandou um email, perguntando como eu estava, dizendo que havia lido o conto, e querendo saber se minha namorada havia terminado comigo. Pô, fala sério!
 
  Bom, até aí tudo bem. Até que dava pra agüentar. Era só responder umas trocentas vezes a mesma coisa. “Não, não aconteceu comigo. Eu inventei mesmo”. Ou então, dizer que aconteceu com um amigo. Acho que dava pra levar. Mas as perguntas e suspeitas não ficaram apenas nisso. A polícia entrou no meio.

Rafael Rodrigues

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  • Procurei em tudo neste site e não encontrei um único comentário. Querem maior desestímulo do que este?

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