Com este texto dou início a uma “série não regular” de comentários sobre livros que estarei lendo ou relendo. É uma espécie de “roteiro de leitura”, mas sem pretensões maiores. Apenas a vontade de fazer com que se crie um mínimo de curiosidade para ler a obra citada.
Roteiro de (re)leitura – I (O encontro marcado)
Quando li pela primeira vez o romance “O encontro marcado” de Fernando Sabino, fui tomado por uma sensação que não saberia descrever agora. Por isso, utilizo aqui as palavras daquele que fez a primeira leitura, três anos atrás:
“Lendo seus livros e suas crônicas, é impossível não sentir uma ‘saudade estranha’ da sua juventude. Fico muito emocionado com alguns textos seus, e a cada leitura sinto mais vontade de ter vivido aquela época da sua juventude e, se possível, uma vida um tanto semelhante”. (Trecho de uma carta enviada por mim a Fernando Sabino).
Na época eu estava iniciando o curso de letras. Começava a me encantar pela literatura. Culpa do Sabino, de outros livros fantásticos que li naquele ano e do maior incentivador de tudo isso: meu ex-professor de teoria literária, o escritor Mayrant Gallo.
Alardeei aos quatro cantos que aquele era um dos maiores romances já escritos na história da literatura. Naquele mesmo ano, o reli pela primeira vez.
Doze meses mais tarde, tentaria duas novas releituras. Não cheguei a finalizá-las. Parei na metade do livro nas duas vezes.
Hoje (esse texto foi escrito dia 17 de setembro de 2005), três anos após a primeira leitura, dei fim a mais uma releitura. Dessa vez mais absorvida, compenetrada, angustiante.
Quem já o leu vai melhor entender minhas palavras. A incessante procura de algo, a vontade de sempre chegar a algum lugar. São algumas inquietações que movem o personagem principal do livro, Eduardo Marciano. Mas ele não sabe ao certo o quê procura ou onde quer chegar. A vida o empurra depressa demais e o coloca frente ao inevitável. Era o seu destino. Como diz o personagem em algumas oportunidades: ele não escolheu, fora escolhido.
A eterna vontade de ser escritor, e a falta de coragem e determinação para iniciar e terminar um livro. O querer uma mulher que o faça feliz e o não comprometimento com o casamento consumado. A constante lembrança dos pais para depois de casado e morando em outra cidade, rapidamente esquecê-los. Outros conflitos que vale a pena destacar.
Conflitos de toda uma geração. E de gerações seguintes. Eduardo Marciano é, ao mesmo tempo, Fernando Sabino (pois muito do personagem se confunde com a vida do autor) e, também, toda a juventude da década de quarenta, época em que se passa a história. Além disso, o livro continua sendo até hoje espelho para muitos jovens.
“O encontro marcado” é, sem dúvida – e digo isso com a autoridade de quem tem uma pequena lista do que não leu do escritor mineiro – a maior obra escrita por Fernando Sabino.
E afirmo, sem medo de ser contestado, que o romance em questão merece estar entre o que há de mais relevante na literatura contemporânea.
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