Um belo dia imaginei que eu me transformara numa frondosa e bela árvore, do pouco que ainda resta da Mata Atlântica. Eu me comprazia ao perceber que podia oferecer fruto e sombra às pessoas, além de embelezar o ambiente levando oxigênio para o homem respirar ar puro. Eu me sentia útil e feliz com o meu destino, até que um dia eu vi os homens se aproximarem de mim com moto-serras e, sem nenhum escrúpulo, sem dó nem piedade, cortaram os meus galhos, deixando-me morta e deitada no chão. Em pouco tempo eu já fazia parte da mobília de alguma família, passei a ser um simples móvel…
Continuando com esse inesperado sonho, eu pedi para nascer novamente, agora em forma de pássaro. E foi assim que eu renasci debaixo das penas azuladas de um lindo pássaro da Região Amazônica. Que maravilha era desfrutar do infinito das matas, do lindo e imenso céu azul! Eu acordava me sentindo livre, leve e dono do mundo. A minha vida era contagiada de pura alegria, cantando feliz para o mundo que me acolheu um dia. Perdi a conta das vezes em que eu voei sobre quilômetros e quilômetros de florestas virgens, planando sobre cachoeiras até voltar ao meu ninho. Mas um dia vieram os homens e me pegaram no alçapão. Preso, junto com outros pássaros, eles decidiram nos vender em cidades distantes. Não suportei os dias preso e morri. Não demou muito para eu virar uma ave empalhada, uma forma estranha de prazer dos homens…
Mas aí achei de pedir a Deus para nascer novamente. Dessa vez eu quis vir em forma do vento. Sim, eu queria ser o próprio vento! Não demorou muito para eu estar em atividade de novo, só que mansamente. Mas aí comecei a me lembrar de outras vidas, do mal que me fizeram e num segundo tomei raiva dos homens. Num momento de total insensatez eu pensei em me vingar de todos eles. Afinal, eu era vento e podia a qualquer momento me transformar num tornado. E comecei a mudar de forma, passando a levar muita dor a cidades inteiras, deixando um rastro de destruição. Os homens estavam desta vez reféns de mim. Eu era forte e podia acabar com a vida deles quando quisesse. Mas de repente uma tristeza imensa invadiu minh'alma. Eu estava me igualando aos homens na pior forma de levar a dor aos outros. E logo me veio o arrependimento e passei a atuar apenas como brisa. Somente assim eu passei a me sentir novamente útil, livre e responsável com a minha missão nesta terra.
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msn: luiz-maia@hotmail.com
SKIPE – luizmaia1
Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar" e "Cânticos".
– Edições Bagaço – Recife/PE.
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