Da minha janela eu posso ver o mundo. Quando a claridade difusa se perde no interior de meu quarto, eu vejo a criança que nasce e o velho que parte deixando saudade. Ouço o vento que assovia nas noites de frio, a chuva que cai deixando escorrer as gotas d’água pelo vidro da janela. Da minha janela eu noto os sinais que vêm da noite: encanto-me com os letreiros coloridos de gás neon, clareando as madrugadas escuras que esperam o dia chegar. Daqui escuto o homem que fala ao vento as sensações e sentimentos vividos. Quase ninguém o escuta e ele segue seu caminho frustrado, confundindo-se na imensidão silenciosa de uma rua qualquer. É fácil perceber os desenganos em suas palavras, que só poderão ser descobertos quando abraçado estiver à serenidade que tem o poder de acalmar a nossa alma.
Da minha janela eu vejo a moça no parque, retirando levemente sua roupa, deixando largado seu sutiã sobre a grama para pegar um sol. Se eu pudesse guardar comigo uma bela imagem, se eu pudesse trazê-la comigo, certamente eu a quereria para mim. A mulher que provoca é a mesma que nega ao homem o realizar de seus desejos. Da minha janela vejo casais a passear de mãos dadas, trocando confidências e juras de amor. Ignoram a correria da vida moderna, a luta por um emprego, a inflação que corrói salários. Esta é a melhor fase na vida das pessoas, elas só têm em mente a esperança e sonhos por realizar. Da minha janela eu vejo homens inquietos, incomodados com a violência da cidade, meio perdidos sem saber qual direção tomar. Um deles se lembra de ter ouvido alguém dizer que nesta vida é preciso ser feliz um dia.
Luiz Maia
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msn: luiz-maia@hotmail.com
Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos" e "À flor
da pele". Recife-PE.
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