Vejo com bons olhos as várias programações que fazem parte do círculo de atividades que marcam o centenário de Dom Hélder Câmara e os 45 anos de sua chegada ao Recife. Em 1964, em seu primeiro discurso, o religioso dirigiu-se ao povo como “um nordestino falando a nordestinos com os olhos postos no Brasil, na América Latina e no mundo”. Na época a imprensa o definiu como um cristão dirigindo-se a cristãos, mas de coração aberto para homens de todos os credos e ideologias. Bispo, poeta e profeta latino-americano, este homem foi em vida um ser humano fabuloso!
Certa vez me deparei com um homem magrinho, pequenino demais, no interior de um quartel que ficava por trás do prédio dos correios, no centro do Recife. Ele usava na ocasião um hábito de cor creme, e parecia bastante preocupado… Eu não entendia nada do que vira, nem sabia os motivos desse homem se encontrar ali detido. Só mais adiante eu pude compreender a razão de tudo. Infelizmente outro não era senão o próprio Dom Hélder Câmara, o ‘pequeno gigante’, pastor dos pobres e excluídos, o inesquecível Dom da Paz, "confundido" que fora com um agitador social pelas forças da repressão.
Em torno dele sempre estavam as pessoas realmente simples, aquelas mais humildes da sociedade. Havia muita gente sofrida a caminhar em sua direção, buscando na maioria das vezes uma palavra amiga, algo que lhes confortasse diante das agruras e das incertezas da vida. Até hoje eu não esqueço de suas fantásticas pregações, das homilias proferidas por onde passou, todas voltadas basicamente para o social, com o intuito de levar o bem-estar para a população mais pobre, sem esquecer no entanto de pregar o Evangelho por onde passasse. A cada palavra dita, a cada gesto de suas mãos, a alegria no rosto de seu povo era cada vez mais evidente. Ninguém melhor do que ele para saber conversar com a multidão de fiéis que se aglomerava, sempre ávida em ouvi-lo, onde quer que ele estivesse.
Certa vez lá se foi D. Hélder visitar uma comunidade paupérrima, na região da Mata Norte de Pernambuco. Em lá chegando, começou então a ouvir os irmãos a cantar a introdução do Salmo 23, que dizia assim: "O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará". Ele, humildemente, diante da multidão, emocionou-se ao constatar que ao contrário do que rezava a letra do Salmo, faltava era tudo para aquela população. Ele sabia mais que ninguém da inexistência ao seu redor de água potável, do alimento à mesa, do trabalho digno, do saneamento básico, escolas e assistência médica decente para um povo calejado pelo descaso do poder público. Sabedor da fé de sua gente, ele nunca deixou de levar uma Palavra de esperança àqueles irmãos carentes, sem jamais esquecer de alertar e de cobrar das autoridades a responsabilidade por tamanha miséria no seio das comunidades. São inúmeros os testemunhos sobre cada palavra sua discursada, ao som dos cantos significativos da época. Tenho por ele um carinho especial. Dificilmente veremos mais pastores com a sensibilidade e o espírito desarmado de um Dom Hélder Câmara, aquele que em vida soube como poucas pessoas honrar o verdadeiro sentido da palavra cristão!
Parabéns Dom Hélder, o Dom da Paz, o povo jamais o esquecerá!
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Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos" e "À flor da pele". Recife-PE.
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