Luiz Maia
Quem já passou por uma tragédia não tem muitas opções. Pode sentir-se um derrotado ou então tornar-se uma pessoa mais humilde. É uma questão de escolha. Se decidir superar os momentos difíceis, terá boas chances de se tornar uma pessoa melhor. Aquele que já sofreu um acidente grave, como o que aconteceu comigo, logo mudará sua percepção de vida e olhará as pessoas por um outro ângulo. A partir desse instante limite surgem novas perspectivas. Tudo muda porque sua existência adquire nova dimensão. Nada será como antes. Aquele que viu a morte de perto, vê seus sentimentos serem transformados da noite para o dia. Aflora a pressa em viver cada momento como se fosse o último. Passa a não admitir jogar fora um segundo de seu precioso tempo. Tem sede de saber, deseja estar presente em todos os lugares que ainda não conheceu, acha que tem pouco tempo para contemplar a vida e não desperdiça nenhuma oportunidade de realizar os seus sonhos. Resolve ser feliz porque já não o incomoda ter convivido em meio à dor.
Quando não conhecemos as intempéries ficamos sem saber como resolver os problemas. Ficamos à mercê do próprio tempo. Mas quando sofremos rupturas, de imediato sentimos a infinita necessidade de sermos mais solidários. O homem começa a cuidar de animais, de flores e da natureza. Busca entender de ecologia, planta mais árvores e observa com carinho os fenômenos naturais. É inegável o despertar para novos valores, consciência e sentido da vida. Inicia então uma fase mais seletiva, preocupando-se tão-somente com a qualidade daquilo que busca para si. Comumente recai sobre elas um forte sentimento de generosidade, de desapego, de amor ao próximo a ponto de querer abraçar a todos, principalmente àqueles que um dia deixou de estender a sua mão. Já não há mais dentro dela espaços para abrigar a pequenez que um dia a impossibilitou de ser verdadeiramente feliz. Nasce assim uma nova criatura.
Luiz Maia
http://br.geocities.com/escritorluizmaia/
Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar" e "Cânticos". – Edições Bagaço – Recife/PE.
Recife, 8 de dezembro de 2006
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