Luiz Maia
Quando somos adolescentes e nos afastamos de casa para morar distante, é inevitável que tenhamos lembranças do nosso lugar. Um dia eu fui residir em São Paulo. Em que pese as novidades serem muitas na admirável metrópole, não demorou para que eu sentisse falta dos hábitos e costumes do meu Recife. Por vezes senti desejos de comer cuscuz com charque, carne de sol com feijão verde, munguzá, canjica e pé-de-moleque. Saudade do pão-de-ló, suco de mangaba, sorvete de graviola, cajá, pitanga e caju. Como não lembrar das praias pernambucanas? Confesso que essas coisas não saiam de minha cabeça. Ser telúrico parece a minha sina. Estou apegado às coisas de minha terra como a ostra está para a sua concha. Certíssimo estava Fernando Pessoa, o poeta maior português, quando disse que o mais belo rio do mundo era aquele que banhava a sua aldeia. Nada mais significativo existe que esse seu sentimento. Coisas de poetas…
Imagino que dentro de minha simplicidade eu possa me fazer entender, falar às pessoas sobre coisas de que eu gosto e que tenho prazer em realizar no meu dia-a-dia. Não tem preço para mim poder chegar em casa, tomar um banho, vestir uma roupa surrada e tomar um café com biscoito. E, antes de deitar, comer queijo de coalho assado na chapa com pão francês. Nada melhor do que estar em casa envolvido com a simplicidade de nossos hábitos, tendo ao meu lado a mulher amada para sorver a alegria da vida. Quando estou na calmaria do lar, sinto estar vivendo em pleno estado de graça. Por melhor que seja um lugar, não nego que eu prefiro o meu cantinho. Essas experiências pessoais me dão a nítida percepção do quão intransferível são meus sentimentos. Minha finalidade é a de aguçar seu imaginário, levá-la a pensar sobre a imprescindível necessidade de convivência com o simples. Abraçar-se a tudo que pareça rotina, comum. Aí é onde mora a felicidade. Torna-se imperiosa essa vivência fecunda com os valores já esquecidos na correria da vida moderna.
Recife, 18 de setembro de 2006
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